quinta-feira, 30 de junho de 2016

A metáfora de Sansão


Palavras colocam-nos em certos climas. E estão acima do nosso entendimento. Determinam o que fazemos e o que sentimos. Os esforços dos homens por conhecê-las por completo, o seu sentido, são em vão.

Os israelitas oscilavam entre a adoração a deuses, o que lhes enfraquecia enquanto nação e os expunha à escravidão, e o refúgio em Javé. Repetiam ciclicamente o pecado, o castigo, o retorno à consciência dos feitos de Javé pela liberdade deles e o clamor pelo auxílio Dele.

Cada geração falhava na tarefa de quebrar este ciclo, o que seria conseguido caso eles se lembrassem dos sofrimentos e das lutas dos seus antepassados, e prosseguissem com as orientações de Javé, que levam à liberdade e à vida.

Um dos juízes de Israel, homens a serviço desta busca por consciência, foi Sansão. Havia quarenta anos os israelitas eram dominados pelos filisteus. Um homem de nome Manué não possuía filhos: sua mulher era estéril.

"Você é estéril e não tem filhos, mas ficará grávida e dará à luz um filho", disse a ela um anjo de Javé. O anjo também disse a ela para jamais passar a navalha na cabeça do menino, pois desde o seio da mãe ele será consagrado a Javé.

Do começo ao fim de sua vida, Sansão cumpre um propósito. E nada, nem mesmo ele, pode cortar de si mesmo algo tão insignificante quanto cabelos. O propósito de Sansão, o sentido da sua vida, foi transmitido à mãe dele pelo anjo de Javé. As palavras do anjo não são claras, não são explicadas. Porque não cortar o cabelo? Como ela ficará grávida?

Ela foi contar ao marido: "Um homem de Deus veio me visitar. Pela sua aparência majestosa, parecia um anjo de Deus. Eu não perguntei de onde ele veio, nem ele me disse o seu nome." Manué buscou um encontro com o anjo. E o encontrou. "'Qual é o seu nome, para que possamos agradecer a você, quando suas palavras se realizarem?' O anjo de Javé retrucou: 'Por que você está querendo saber o meu nome? Ele é misterioso'".

O caminho de Sansão, feito por suas decisões, seguiu, sem que ele ou qualquer pessoa adivinhasse aquele propósito de Javé. Eram palavras cujo sentido não podia ser apreendido. Um dia, indo a Tamna, Sansão encontrou uma jovem. Quis casar-se com ela. Os pais dele lamentaram que escolhida do filho fosse moça filisteia.


Próximo a um vinhedo de Tamna, Sansão deparou-se com um leaozinho, que rugiu ao vê-lo. Com facilidade e usando as próprias mãos, Sansão despedaçou o animal. No dia em que se casaria, Sansão tornou a passar próximo daquele vinhedo. Encontrou a carcaça do leão. Nela muitas abelhas haviam feito um ninho. Sansão recolheu um punhado de mel e o foi comendo pelo caminho.

Na casa da noiva havia um banquete. Aos presentes, Sansão propôs uma adivinhação: "Do que come saiu comida, e do forte saiu doçura." Trinta peças de linho e trinta roupas de festa seria o prêmio daquele que adivinhasse, traduzisse as palavras enigmáticas em palavras inteligíveis.

Sem conseguirem adivinhar, alguns dos presentes no banquete disseram à noiva de Sansão que ela deveria fazê-lo dizer a resposta ou eles ateariam fogo nela e na casa de seu pai. Ao choro dela, Sansão responde que nem aos próprios pais ele dissera.

Após muito pranto, a moça enfim obtém a resposta e, ao saberem dela, os homens contam-na a Sansão. Ele então vai à cidade de Ascalon, mata trinta homens, tira-lhes as roupas e as dá para os que disseram a resposta. Cheio de raiva, Sansão retorna à casa do pai.

Dias depois, Sansão torna a visitar a sua mulher. O sogro, porém, não lhe deixa entrar, dizendo que dera a filha a um daqueles homens do banquete, pensando que ele não mais gostasse dela. O sogro ofereceu-lhe a filha mais nova, dizendo-a mais bonita.

"Desta vez não sou culpado do mal que vou fazer aos filisteus." Ele pega trezentas raposas, amarra-as em pares, pelos rabos, e em cada par amarra uma tocha acesa. O fogo acabou com as plantações dos filisteus. Os filisteus identificaram o culpado, e atearam fogo na mulher a quem Sansão desejava, e também na casa do pai dela. Sansão matou-os todos.

Sansão lançara palavras misteriosas para dizer o que havia ocorrido com ele. Despertara a cobiça e a maldade dos filisteus. E o que os filisteus fazem justifica o massacre perpetrado por Sansão. Tal era o propósito de Javé, a fim de ajudar Israel. E essa ajuda estava sendo providenciada sem que lhes parecesse ser obra Dele.

O povo, então, poderia começar a ver a si mesmo como capaz de realizar ações que cuidassem da justiça e do estabelecimento gradativo de uma situação de maior liberdade para eles. De dependente de Javé, o povo passaria a agente dos seus próprios propósitos, tendo em Javé um norte.

Três mil filisteus apareceram no rochedo onde estava Sansão, querendo levá-lo preso. Os homens de Judá questionaram-no sobre o que ele fez aos seus dominadores. Amarram-no com duas cordas novas e entregam-no aos filisteus.

Os filisteus o recebem em festa. As cordas que amarravam Sansão ficaram como fio de linho queimado e, pegando uma queixada de jumento, que estava perto, Sansão matou mil daqueles homens.

Tempos depois, Sansão conheceu uma mulher chamada Dalila. Os chefes dos filisteus não demoraram a aliciá-la. No próximo encontro que teve com Sansão, Dalila passou a pedir que ele dissesse o segredo de sua grande força, e como ele deveria ser amarrado para ser dominado.

Aqueles homens e Dalila queriam que tudo fosse dito, de modo a que eles pudessem tomar providências em relação a Sansão. Do jeito que as coisas estavam, a explicação do que Sansão era capaz de fazer estava encerrada em uma boca que não falava com qualquer homem e, quando o fazia, com homens bons, era em um encadeamento de palavras cujo sentido lhes escapava.

Por três vezes Sansão disse a Dalila de que modo ele deveria ser amarrado, para ser dominado. A cada vez, ele dizia um modo diferente. E ela o testava, chamando filisteus para pegá-lo. Em todas as vezes, Sansão conseguia facilmente livrar-se das amarrações.

Dizendo duvidar do amor dele, e insistindo incessantemente, Dalila consegue ouvir de Sansão que se uma navalha passasse na cabela dele o tornaria fraco como qualquer homem.

Os filisteus deram dinheiro a Dalila. Cortaram todo o cabelo de Sansão, e a força dele desapareceu. Ele nada conseguiu fazer contra seus atacantes, que o prenderam e lhe furaram os olhos. Para ele, Javé o abandonou.

Sansão foi preso com duas correntes de bronze e posto na prisão, para girar a pedra do moinho. Os chefes dos filisteus organizaram uma grande festa, com um sacrifício ao deus Dagon. "Nosso deus nos entregou nosso inimigo Sansão, aquele que devastou nossas terras e multiplicou nossos mortos."

Chamaram Sansão para trazer-lhes divertimento, dançando, cego e seminu, entre as duas colunas principais do templo. Sansão pediu ao moço que o transportava que o pusesse num lugar onde ele pudesse se apoiar nas colunas. O templo estava repleto de filisteus, incluindo seus chefes. Eram ao todo três mil homens, vendo Sansão dançar.


Sansão invocou a Javé que permitisse que, de um só golpe, ele pudesse vingar-se dos filisteus. "Que eu morra junto com os filisteus!" O cabelo de Sansão já havia crescido um bocado. Ele empurrou as colunas com toda a força, "Desse modo, ao morrer, Sansão matou muito mais gente do que tinha matado durante toda a sua vida." Sua vida levou a isso, a cumprir as palavras do anjo.

Sansão era forte e doce, como um leão cheio de mel. Tomando por Lacan, a partir do seminário "A função criativa da palavra", essa metáfora não pode ser entendida como uma comparação entre Sansão, o leão o mel: toda metáfora emerge implicando mais do que se espera dizer, por isso com essa metáfora estamos a dizer que a força de Sansão surpreende por ele ser um homem bom, e que é surpreendente que ele permaneça doce por toda a vida, mesmo sofrendo e perpetrando violentos ataques.

A ambiguidade de Sansão está na violência que se anula pela doçura do homem, e na doçura de um homem que morreu por uma grande vingança pessoal e do próprio povo. Cada elemento, aí, ganha sentido no interior do mundo simbólico que envolve Sansão."Cada vez que estamos na ordem da palavra, tudo que instaura na realidade uma outra realidade, no limite, só adquire sentido e ênfase em função dessa ordem mesma" (LACAN. O seminário I, p.310).

A metáfora do leão e do mel emerge ao ser de Sansão. Ele fez esta associação, e presentou a quem o ouviu uma confissão dele mesmo. Os símbolos trazidos por ele são o ambiente no qual ele emerge como homem. Ele invoca a si mesmo quando diz aquelas coisas. Traz a si mesmo à tona, faz-se comunicável e inteligível.

As palavras, porém, são coisas que se lançam aos homens. O que elas significam é o que eles creditam a elas. Elas, em si mesmas, são anteriores a tudo. Os homens nascem num ambiente simbólico. E esse nascimento, diga-se, com Sloterdijk, começa a ocorrer quando ainda estamos no útero.

Sem a dimensão simbólica, toda comunicação seria a transmissão mecânica de uma informação: eu te digo x, e você entende x; caso você entenda y, identifico o erro e digo x de uma outra maneira. Nossa comunicação não é assim. Ela é cheia de mal-entendidos, ambivalências, ironias e meias-verdades.

Algo mais do que um sentido está em jogo no que dizemos. O que dizemos sempre nos envia ao próximo ato de dizer mais, navegando pelo simbólico. Seja humano, seja divino, esse ambiente é misterioso para aquele que, mesmo tomando-se como entendedor de tudo, é uma criação. Uma criação que, tudo bem, é do próprio ser a quem chamamos de indivíduo, mas que se dá com a sua parceria com outros seres.

Nos fazemos a partir desse ambiente de co-criação, entre homens, incluindo ou não Deus. Expressamo-lo em palavras, metáforas.

terça-feira, 28 de junho de 2016

Sem futuro à vista


No livro de Juízes, do Antigo Testamento, tomamos conhecimento de Galaad e de Jefté. Galaad teve filhos com sua esposa, e um filho com uma prostituta. Este era Jefté. Jefté fora expulso da tribo de Galaad pelos próprios irmãos. "Você não pode participar da herança do nosso pai, porque você é filho de outra mulher." Anos depois, Jefté havia se tornado um valente guerreiro.

Aconteceu de o povo amonita atacar Israel. Os anciãos de Galaad acorreram a Jefté, para que os comandasse na guerra. Jefté relembrou-os do ódio do qual ele fora vítima. Os anciãos ofereceram-lhe a posição de chefe não apenas do exército, como de todos os habitantes de Galaad. Jefté aceitou, mas caso Javé o ajudasse: "Se Javé os entregar (os amonitas) na minha mão, então eu serei o chefe de vocês".

Jefté enviou emissários ao rei dos amonitas para perguntar o motivo do ataque. O rei justificou-se dizendo que Israel, ao vir do Egito, apoderou-se de suas terras. Jefté reenviou os emissários, para que dissessem ao rei o percurso de Israel pelo deserto. A história dizia que, quando Israel chegou a Edom, enviou emissários pedindo ao rei deste lugar que os deixassem atravessar a sua terra. Não obtiveram qualquer resposta. Israel então contornou Edom e, ao chegar na fronteira de Moab, enviou emissários ao seu rei, pedindo que os deixassem atravessar a terra. Também foram ignorados. Israel, então, seguiu viagem.

Ao chegarem à fronteira de Seon, emissários também foram enviados ao rei deste lugar. Como resposta, o rei de Seon reuniu seu exército e atacou Israel. Javé fez com que Israel o derrotassem e tomassem posse de sua terra. Após narrar este percurso, Jefté pergunta ao rei dos amonitas se ele terá coragem de tentar expulsá-los daquelas terras, dadas a eles por Javé. O rei nada responde. O espírito de Javé desce sobre Jefté e este pede para sair vitorioso daquela guerra. Em troca, Jefté promete entregar como holocausto a Javé a primeira pessoa que sair da porta de sua casa para recebê-lo depois da guerra.


Jefté derrotou o exército dos amonitas, e Israel então os dominou, tomando posse das suas vinte cidades. Jefté voltou para casa. Sai pela porta, dançando ao som dos tamborins, sua filha única. "Ai, minha filha, como sou infeliz! Você é a minha desgraça, porque eu fiz uma promessa a Javé e não posso voltar atrás". A filha apenas lhe pede que a deixe andar por dois meses pelos montes, na companhia de amigas, chorando porque morrerá virgem. Dois meses depois, a moça volta para casa, e a promessa é cumprida.

Dentre os comandantes que Israel tivera até então, seja o sacerdote Moisés ou o guerreiro Josué, nenhum fizera promessas a Javé. Pelo contrário, Javé que lhes prometeu uma terra que emanasse leite e mel. Israel deveria lutar com coragem para tomar posse da terra, e seguir com confiança e dedicação os preceitos de Javé, adorando-o unicamente, de modo a efetivamente conquistarem seus ambientes. Com isso, garantiriam sua herança, e Javé teria sua vontade também satisfeita. O propósito que estava em jogo, aqui, era o de Javé. Mas este propósito era o da libertação do homem.

Após a morte de Josué, e dos anciãos que acompanharam suas batalhas contra inimigos e para fazer Israel manter os preceitos de Javé, o povo passou a adorar os deuses dos cananeus, povo a que Israel não exterminara. Javé puniu Israel, pela traição. Ou o que houve não foi por punição divina, mas o resultado lógico de se adorar outros deuses, ou melhor, outros preceitos: Israel perdeu guerras e foi submetido ao poder de muitos reis. Após alguns anos de escravidão, Israel implorou o perdão de Javé que, então, designou um juiz para informar-lhes de qual havia sido o seu erro perante Javé.

Israel reconheceu o próprio erro, voltou a depositar confiança em Javé e livrou-se da escravidão. Contudo, com a morte de cada juiz, Israel repetia a adoração de outros deuses, a recaída na escravidão, o sofrimento e o novo pedido de perdão. Isso tornou-se um ciclo sem fim.

Jefté, portanto, encontra Israel gerações depois da promessa inicial de Javé. Gerações depois do sonho deles. Eles não possuem mais aquela promessa guiadora. Sua vida alterna quietude e sofrimento, outros deuses e Javé. Por ainda não possuírem uma tradição de rememoração do sofrimento das gerações passadas, e dos seus feitos apoiados por Javé, Israel descamba para deuses que requerem menos regras sociais e regras de comportamento para a preservação das posses dos indivíduos, inclusive das vidas deles, do que Javé requer.

Vivendo com menos regramento legal e moral, Israel acaba permitindo que ocorram relações abusivas e, no limite, fica exposto à escravização. A civilização exige regras, para que o homem não viva sob a lei do mais forte. Para escapar do sofrimento, Israel recorre a Javé. Recorre desesperadamente, sem esperança. Israel quer resolver uma situação concreta. Não há preservação de uma tradição e de preceitos com vistas a alcançar algo de bom no futuro.

Jefté não teve defesa contra a expulsão que sofreu, quando criança. Ele não teve a promessa que, por exemplo, recebeu Ismael, filho de Abrãao, quando sua mãe, Agar, serva de Abrãao, fora expulsa pela esposa dele, Sara: Javé prometeu que Ismael viria a ser o pai de uma grande nação. Como um guerreiro sem esperança, Jefté, ao ser chamado para proteger aqueles que o expulsaram, pensou apenas em ter poder sobre eles, vingar-se.

Neste momento, ele não pensou na sua frutificação, na sua filha, naquilo que levaria sua história adiante. Ele amputou o próprio braço, o braço do presente que se esticava ao futuro, para fora daquele tempo de paz sem esperança e de sofrimento humilhante. Reproduziu em sua vida o ciclo por que Israel vinha passando, de salvar-se dos grandes problemas do presente, sem cuidar-se, que significa conhecer o próprio passado e sonhar com um futuro melhor.

sábado, 25 de junho de 2016

Um presente para você

Durante uma aula, em um curso de graduação de uma universidade particular, o aluno exige que o professor novamente lhe explique a matéria, pois "paga a universidade, então paga ao salário dele". O filósofo alemão Peter Sloterdijk, na entrevista "What does a human have that he can give away?"(http://www.academia.edu/9185150/What_Does_a_Human_Have_that_He_Can_Give_Away_-_interview_with_Peter_Sloterdijk_2013_), afirma que em nossa cultura de produção em massa de diversos bens, como por exemplo a educação ou os alimentos, somos todos consumidores. E somos praticantes de uma ética erótica, que é a do inesgotável desejo de ter algo que sempre parece nos faltar. Somos como bocas abertas e carentes que vivem querendo que algo lhes caia dentro.

No caso da universidade particular, temos dinheiro. Então nos vemos no direito de que algo seja depositado em nossas bocas. Esticamos o braço para dar o dinheiro, e queremos conhecimento em troca. A relação é de consumo, não parece haver aí qualquer preocupação com desenvolvimento pessoal, enriquecimento espiritual. Diferente disso ocorreria em uma universidade pública, por exemplo, em que não haveria troca de dinheiro por conhecimento: o aluno veria a si mesmo como tendo estudado e passado em um difícil concurso, para estar lá. O valor pessoal dele estaria provado, e ele o apresentaria ao professor para ser visto por ele como alguém que mereceria assistir a sua aula.

Na descrição da situação da universidade pública eu usei o futuro do pretérito nas ações. Fiz isso porque estes verbos, para acontecerem, assim como o desenrolar daqueles fatos, requerem que os alunos cheguem àquela situação como tendo algo pessoal a dar para a universidade, para ser trocado pela aula. Eles não poderiam chegar como pessoas a quem falta algo, e que disfarçam isso com dinheiro. Mas não é assim que ocorre pois, entre nós, só chega à universidade quem fez bom ensino médio, o que envolve dinheiro. Então, este aluno também só é capaz de encarar uma aula como uma situação de consumo, proporcionada a ele não por ele ter algo de especial. Este aluno também é capaz de dizer que paga o salário do professor, por pagar impostos.

Segundo Sloterdijk, impostos são direcionamento de dinheiro a uma instituição primeiramente interessada em manter a si mesma, e cujo uso deste recurso em serviços públicos ou não é exatamente o que muitos gostariam que fosse, ou não é o mais eficiente. O fundo recolhido através dos impostos torna-se um dinheiro mal-utilizado, e utilizado sem o total conhecimento e aprovação do contribuinte. Deste modo, ninguém vê a si mesmo como contribuidor ao funcionamento de uma universidade pública. Essa instituição é gerida sem a participação ou ao menos o conhecimento dele.

Poderíamos tentar considerar, neste momento, os dons espirituais dos jovens como um certo bem que eles dirigem à universidade. E observamos isso. Mas também observamos a substituição da troca entre dom espiritual e boas aulas pela troca entre dinheiro e conhecimento. A troca de dons espirituais, que podem ser bom nível cultural, boa educação, bons valores, etc, por boas aulas requer que se esteja não em um clima erótico, de sensação de que algo falta e por isso precisa ser pego, mas em um clima timótico.

O thymos foi trabalhado principalmente por Platão, em A República: o homem pode ter um dentre três tipos de alma, que são a alma com a aptidão para desenvolver o intelecto, a propensa aos apetites e aquela que pode e deve desenvolver seu thymos. Na psicologia platônica, que pertence à cultura grega antiga, o thymos são os derivantes da ira, que vão desde o orgulho até a cólera. O timótico seria o disciplinado, treinado e orgulhoso soldado da República. Ele reconhece os seus talentos, regozija-se por realizar bem a sua função e propensão de alma. E ele quer o reconhecimento dos outros. Oferece seus talentos aos seus concidadãos, e em troca quer cumprimentos. Timótico também é o intelectual, que elabora uma ideia e se sente auto-recompensado ao fazê-lo.

Este aspecto psicológico encontra-se entre nós pouquissimo desenvolvido, visto que nem mais ouvimos falar nessa palavra (você já tinha ouvido falar em thymos?). Não damos valor ao orgulho, não temos muita clareza do que seja fazer algo bem-feito ou realizar uma boa ação, e sentir prazer com isso. Sloterdijk nos fala de empresários, nos EUA, que fazem grandes doações em dinheiro a Universidades. Não estão trocando dinheiro por conhecimento, mas por incremento desenvolvimental de comunidades. E o fazem em troca de reconhecimento social, mas sobretudo por orgulho próprio.

O filósofo sugere que comecemos a considerar incentivos a uma cultura de doações voluntárias. Impostos, coercitivos, têm sido acompanhados de perda de noção dos indivíduos quanto ao uso que é feito do dinheiro deles, e isso leva à falta de sentido que o funcionamento de uma universidade tem para eles. Doações, ao contrário, são uso dirigido de dinheiro, feito por quem sente que tem algo a dar e que gera tão bons resultados em universidades, hospitais, etc, quanto geram bem-estar aos doadores.

Uma cultura mais timótica significaria estudantes, que não são empresários, apresentando-se como aprendizes. A palavra aprendiz sugere alguém em formação tanto em uma área de saber e para exercer uma profissão, quanto integral, ou seja, cultural e comportamental. E todo aprendiz olha com orgulho para si mesmo. E sente que este é o mesmo olhar que o professor, seus pais e, posteriormente pessoas desconhecidas, lançarão para ele.

Estudantes, professores, pais, governantes deveriam buscar fazer algo bom, digno de orgulharem-se. Numa cultura assim, veríamos a nós mesmos como pessoas dotadas de algo especial que pode ser oferecido ao mundo. E este algo, na verdade, só o conhecemos ou o temos se o damos, como diz Sloterdijk, citando um dito de Lacan a respeito do amor: "você só o tem passando-o adiante".

Dar o que você tem de bom é dar essa mesma coisa de presente para você mesmo.

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Vontades divididas


Estou esperando o bolo de aipim como coco terminar de assar. Enquanto o preparei, ouvia Belchior. Não se faz mais músicas como ele, na MPB. Ele fala muito sobre beijar a menina dele. Sobre ver a cidade, de paralelas que nunca se encontram. E ele volta ao coração nordestino, com quem via a sessão das cinco.

Descasquei e ralei mais de dois quilos de aipim, mais um coco, pensando em deixar o bolo bom. Amanhã meus colegas de trabalho deverão elogiar. Pensei nas minhas meninas, que também adoram bolo, comendo pipoca com coca, no quarto. Ando fazendo muitos bolos para levar para o trabalho. Ando pensando muito nos colegas. E minhas meninas, a quem já muito dediquei minhas comidas, há um tempo que não ganham nada.

Cada ralada era um pensamento neles e nelas. E pensamento na ralada, para não pegar no dedo. Quem come pensa coisas particulares. Eu, cozinheiro, suponho que quem come pense na comida, em mim. O tanto que pensei na sensação que terá quem come, é o tanto que, na hora em que estão comendo, atribuo de pensamento deles voltando sobre mim.

Freud falou que a libido, nossa energia amorosa, é hora jogada para os objetos, ora jogada para o eu. Amamos nosso eu como queremos que os outros nos amem. Amamos os outros, para que eles nos amem de volta. O espelho é bate-volta.

A vontade do eu está comandando esses bolos, feitos, a cada etapa, pensando nos outros e em mim, mas sempre em mim. Quero reconhecimento, que nunca se satisfaz. Agostinho disse que nossas vontades do eu nunca se satisfazem. A alma lança um fraco comando ao corpo, e ele já responde, querendo cozinhar.

Como a sede das vontades, a alma, pode ter tanto poder sobre o corpo? E como a mesma alma não consegue exercer sua vontade sobre si mesma? Agostinho faz essas perguntas, esperando que sua alma consiga não perder-se nas inúmeras vontades do eu e do corpo. Ele quer que sua alma possa ordenar a si mesma para que busque as coisas de Deus, que proveem satisfação que não passa.

Tenho na lembrança os elogios que já recebi. Ainda hoje eles me servem. Estão durando, no meu eu. Mas, é verdade, Agostinho, que eu o quero de novo. Não digo que queira mais pois, quando faço algo pelo elogio, sinto que estou vazio dele, apesar de um dia ter estado cheio. Digo que quero de novo, como se fosse a primeira vez.

A insatisfação do homem o faz sentir as coisas como na primeira vez: o sabor do bolo, dos elogios, dos sorrisos, da música. Belchior cantava sobre o muito que um dia viveu. Apesar de querer essas coisas de volta, e estar cheio de lembranças, ele está vazio delas. Está vazio pois é capaz de senti-las como novas.

Meu eu é cheio de lembranças e vontades. Quer repetir os sucessos que um dia teve. Mas ele também está vazio pois, justamente por sua insatisfação crônica, toda a sensação do passado foi consumida. E ele quer as sensações de novo, por não as tê-las mais. Ele está com todos os sentidos prontos para novamente comer o bolo, e escutar falarem com ele.

P.s.: Dessa vez, felizmente, a quantidade de massa não coube na forma, e sobrou para uma fornada para as minhas meninas. Eu estava dividido entre a vontade de agradar os colegas e a vontade de agradar as minhas meninas. Eu estava dividido, eu era dois, duas vontades. Agora, conseguirei satisfazer ambas vontades. Meu eu, que é ao menos dois, eu o sentia como um dividido. Mas não sentirei mais minha divisão. Terei a sensação de que sou mesmo um.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Corpos vivos e corpos mortos



Em muitas escolas, à entrada, as crianças cantam o Hino Nacional. A professora exige que ponham a mão sobre o próprio coração. Alguns dão uma dançadinha, cantam um pouco enrolado, com voz mole. Mas todos permanecem mais ou menos em fila. O Hino os embala, e a impressão que se tem é que se trata de algo maior do que cada um deles.

Já para os jovens, um número menor de escolas pede que cantem o Hino. Mas as há. Contudo, por um fato dito pelo filósofo americano Richard Rorty, e citado por Paulo Ghiraldelli Jr em seu livro a ele dedicado ("Richard Rorty", Editora Vozes), na escola os jovens começam a levantar questões sobre o que aprenderam durante a infância. Esta será a marca da universidade, mas já se faz, por exemplo, na escola, perguntas sobre os interesses de Cabral ao vir ao Brasil. Também se pergunta pelo tal "descobrimento", uma vez que já existiam habitantes aqui. A história do Brasil, afinal, produziu um Estado, uma população culturalmente muito diversificada, mas também produziu morticínio de índios e escravização de negros. Isto para o que se sabe no nível da crítica feita no segundo grau.

Temos visto muitos casos de alunos desrespeitando professores em sala de aula. Estes casos incluem os jovens que batem em professoras, e universitários que tentam forçar o professor a aderir a uma greve (https://www.youtube.com/watch?v=OUmKfiVHcPc), ou que apagam o quadro enquanto o professor escreve (https://www.youtube.com/watch?v=lpsQu29r55Y). Mas também há situações em que se observa a permanência do respeito do aluno em relação ao professor e à escola.

Por "respeito ao professor e à escola" refiro-me ao comportamento, diante deles, diferente do que se tem quando se está em casa ou na rua, com os amigos. Falo de um certo comportamento auto-contido, que permite ao jovem manter-se atento para escutar e aprender com o ambiente escolar. Este comportamento não inibe o jovem de apreender à maneira dele o que foi desde cedo ensinado. Se desde criança o jovem canta o hino, quando jovem ele terá tudo para mostrar a sua própria versão.

Este vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=IM8Dj0DDScE) mostra alunos de uma escola da Paraíba que fizeram um remix do nosso hino, vertendo-o para o funk, enquanto dançavam a dança chamada "passinho". A música começa como todos conhecemos, mas logo se transforma, junto dos movimentos dos jovens. Este caso mostra o jovem expressando à maneira dele o que aprendeu. Mostra, também, que o outro olhar, a crítica, pode ser feita tanto num texto como num remix. Ambos mostram que a narrativa ou o ritmo podem ser diferentes.

Apresentando-se em torno do Hino Nacional, com seu corpos coreografados, os jovens mantem-se no mesmo ambiente que todas as outras pessoas que ouvem o Hino e sentem-se filhos de uma pátria. Ao ouvirmos a voz mandona e carinhosa do pai, é normal requebrarmos. Estamos envoltos por uma sonoridade que nos abriga. Imagine-se em Portugal e ouvindo o hino deste país, e não mais o do Brasil? Mesmo que, porventura, você esteja em um bairro parecido com um do Brasil, ao ouvir o hino diferente você certamente se sentiria fora de casa. Somos filhos de uma pátria e temos uma linguagem corporal e musical para experienciar e expressar isso.

Em Manaus, por ocasião de uma cerimônia com a tocha olímpica das olimpíadas de 2016, soldados fizeram uma exibição com uma onça-pintada. Quando tudo estava encerrado, pelo comportamento agressivo da onça os soldados acabaram matando-a com um tiro de pistola. Em propagandas e pronunciamentos oficiais, a imagem do exército é de que ele protege as coisas do Brasil, dando prioridade a quem mais precisa de ajuda, como vítimas de calamidades e animais em extinção. Eles têm treinamento, são exercitados para a ação na água, na terra e no ar, além do manejo de armas de fogo, para cumprirem aqueles objetivos. A eficiência e o respeito à nossa moral aparecem, nas propagandas, como patentes nas ações e no comportamento de um militar. Melhor do que ninguém, eles devem saber cantar e por a mão sobre o coração ao som do Hino. Devem sentirem-se em casa, ao ouví-lo, e amarem as coisas do Brasil.

A morte de Juma, no entanto, chega-nos como mais uma violência que esta instituição, que inclui a Polícia Militar, é capaz de perpetrar. Todos temos histórias de abuso de autoridade de militares. Com armas na mão, eles parecem antes satisfazerem seus desejos agressivos do que atuarem como recomendou Platão, na República, ao guardião: tal como o bom cão, o guardião deve ser amável com os concidadãos e agressivo com o inimigo externo. Não sentimo-nos seguros próximos a um militar do nosso país, pois ele, se não comete violência contra nós, pronuncia-se a favor dela.

Aqueles jovens, ao dançarem, reverenciam o Hino. São alegres como a boa imagem que temos dos brasileiros. São vivos como onças-pintadas.

Já o corpo militar, esse cheira à morte.


P.s.: Se você acha que o militar agiu corretamente ao matar a onça, saiba que a disposição em defender a vida nos faz pensar que este acontecimento deveria e poderia ter tido um outro desfecho. E a disposição para a morte faz com que apenas se busque justificar o que ocorreu. Quem defende a morte, além de mau, não pensa, não vai além das situações. Em suma, é burro.

Como fazer o desfralde?


Acontecem muitas duvidas na hora do desfralde, como fazer, o melhor momento de iniciar essa transição de maior independência das crianças.
E a primeira observação que os pais devem perceber é se a criança está com maturação para tirar as fraldas (explico a diferença entre maturação e maturidade nesse texto AQUI).
Alguns médicos falam que a média é de dois anos de idade, entretanto a criança vai te dar sinais que podem ser do interesse de ir ao banheiro “conhecer mais essa rotina diferente” a tirar a fralda e não querer usar mais.
É importante que os pais entendam que os papeis deles são de auxiliadores do processo. As punições, obrigações e brigas no processo de tirar a fralda podem trazer culpa e desconforto a criança, fazendo com que ela prenda a urina e as fezes por muito tempo ou tenha medo, podendo causar uma infecção urinária ou ressecamento das fezes trazendo dor para esse momento.
A escola e creche podem ser um aliado, tendo em vista que há convívio com criança da mesma idade que estão passando pelo mesmo processo, podendo gerar uma identificação.



A criança sinalizou? Vamos começar o desfralde.


Compre um penico ou assento. Para que a criança se sinta confortável e acessível ao banheiro, com esse conforto pode-se gerar confiança para essa independência.

Ensine o processo. Deixar a criança observar o processo de fazer xixi e/ou cocô é muito importante e estimulante, podendo ser no vaso ou no banho.

Vamos estimular. Comprando calcinhas e cuecas temáticas, deixe que as crianças participem dessa escolha, podendo sinalizar verbalmente que as peças íntimas novas são para essa nova etapa.

Faça Festa. A criança pediu ou fez? Sinalize que ela foi muito bem e que ela está aprendendo. Quando as coisas parecem um jogo estimulam mais as crianças, sejam criativos.

Tires as fraldas definitivamente. Não confunda as crianças deixando ela uma parte do dia com fraldas e outro sem, isso pode gerar dúvidas para ela, podendo tardar o desfralde.

Faça um trato. Combine com sua criança que vocês vão está sempre verificando se tem xixi. Fale “vamos vê se tem?” para que não haja muita resistência. Lembre-se de verificar em tempos curtos, com aproximadamente 2h de intervalo, dependendo de quanto liquido a criança tomou. Nesse processo a criança vai aprendendo quais são os sinais que o corpo dá para sinalizar o xixi e o cocô.

Desfralde a noite. Sim, são desfraldes diferentes. Você pode combinar com essa criança que depois de 10 dias de fralda seca essa fralda vai ser tirada. Combine o xixi antes de dormir. E caso continue tendo escape de urina, os pais podem cortar líquidos umas 3 horas antes de dormir. Pode ser que ainda ocorre escape, mas que a criança entenda que é uma aprendizagem.
Depois do controle noturno, pode voltar os líquidos na parte da noite.

Seja parceiro dos seus filhos nessa hora, é uma hora de aprendizagem que precisa de muito carinho e amor. Converse e tire dúvida sem chacota. O apoio dos amigos, professores e familiares podem ser de grande valor.


Autora: Psicóloga Dayane Marins, do blog parceiro Livre À Reflexão.


http://livreareflexao.blogspot.com.br/2016/06/como-fazer-o-desfralde.html

sábado, 18 de junho de 2016

Histórias são para arregalar os olhos


Na primeira chance que temos, contamos uma história. Pode ser para aconselhar. Um conselho como uma ordem, por exemplo. Ou como uma história. Walter Benjamin, no texto "O Narrador", conta de um velho que, ao leito de morte, diz aos dois filhos que se eles cavarem a terra encontrarão um tesouro. O pai morre. Os filhos passam a sempre cavar a terra. Ao ser remexida, a terra vai sendo arada e tornando-se melhor para as plantas, que começam a crescer melhores do que antes. Os rapazes fazem riqueza com os frutos que brotam dali.

Lembrei-me disso ontem, quando peguei um biscoito da sorte chinês: atrás da embalagem veio escrito para eu quebrar o biscoito e ler a sorte antes de o comer. Imediatamente pensei que aquele aviso referia-se a uma necessária pausa de reverência à boa sorte. E de fato é, pois seria uma má sorte mastigar um papel, ou engasgar com ele. Mas se apenas estivesse escrito para se tomar cuidado com o papel, não haveria história. "Quebre o biscoito, retire o papel e leia a sua sorte" é um ritual. Ouvindo o que ele diz e cumprindo-o, você imediatamente terá boa-sorte.

Crianças gostam de histórias, personagens e cenários familiares, e primeiros fatos ainda conhecidos, mas cujo desenrolar leve-as para o não familiar. Nenhuma criança quer sair de casa, mas vive imaginando como seria isso. As histórias que contamos a elas têm finais de retorno para casa. Chapeuzinho Vermelho, uma hora voltou para sua mãe. Não pela floresta, caminho que, diga-se, foi o que ela quis pegar ao ir à casa da Vovó. Branca de Neve saiu de casa para virar mulher e ir morar com o príncipe. Queremos sentir o gosto do desconhecido.

Entre adultos, conta-se histórias de doenças e assaltos. Conta-se com emoção, para impressionar a audiência. Alguns ouvintes logo retiram delas uma ordem que precisam cumprir, para escapar daqueles males, tomando o ritual ao pé da letra. Mas a maioria ouve e arregala os olhos. Elas e o narrador estão em segurança, falando sobre o que há da porta para fora.

Compartilhamos disso pelo prazer das histórias, não para tirarmos lições. As lições são as palavras das nossas mães que nos valem mais pelo som do que pelo conteúdo. Estamos em casa se estamos sob aquela frequência sonora. Vamos aonde temos vontade de ir, mas regularmente voltamos para aquele som.

As histórias dos colegas, diferentemente das das mães, não veiculam ordens. São apenas histórias sobre o dia em que ousaram espiar do lado de fora. Se os outros quiserem também espiar, se tiverem coragem, eles que se garantam. Viverão risco, viverão passos aventureiros.

Há quem, estranhamente, adote histórias como pautas de comportamento a serem seguidas ou rechaçadas. A Bíblia frequentemente é citada como textualização do que deve ser feito, e também como conjunto de orientações para a violência e o atraso. Mas a Bíblia é uma história normatizadora apenas para os judeus. Os não-judeus tomam-na como inspiração, assim como o fazem com Platão ou Machado de Assis. Estes são livros que mostram você saindo de casa para viver algo novo. E, assim, fazem-nos arregalar os olhos, e então desarregalá-los, enquanto vai ficando pensativo.