quinta-feira, 1 de setembro de 2016

O que é ser um indivíduo?


Janaína encerrou seu discurso (https://www.youtube.com/watch?v=P5FQH9f5ads) no julgamento de Dilma dizendo que, após o fim daquilo tudo, caso fosse novamente necessário, ela sairia do conforto do anonimato para entrar com um novo processo de impeachment. O Deus de Janaína (entenda-o aqui:http://ghiraldelli.pro.br/filosofia/deus-nao-faz-impeachment-mas-ajuda.html), o mesmo que o de todos nós, pois dizemos “tudo isso foi obra de Deus”, “ou tudo isso foi coisa do destino”, caso novamente coloque no poder um outro presidente participante de esquema de corrupção, assistirá uma nova ação daquela mulher.

Ela, um indivíduo, viu os fatos, pensou e agiu. Está vendo os fatos, e chamando-nos para também vermos, para além da propaganda ideológica. Está pensando, e chamando-nos para também pensarmos para além do pensamento ideologizado, que é o não-pensamento.

Janaína está agindo e fazendo-nos ver o que está em nossa cara, e dizermos: “porque tenho que fechar os olhos para banditismo, em troca de esmola? Tenho que me humilhar desse jeito? Porque não posso ter um presidente que seja um indivíduo, que mostre as reais condições de trabalho, dele? Quero um presidente que tenha valores, princípios de visão e de ação, e os mostre. Que não seja um burro perdoado por gente que duvida da própria inteligência. Um corrupto perdoado por gente que duvida da própria honestidade. Um inapto perdoado por gente que duvida da própria aptidão.”

Todo americano quer se Obama. Duvido que algum petista, em seu íntimo, queira ser Lula ou Dilma. Não quer, embora diga para si mesmo que coisa melhor ele próprio não consegue ser. Quer ser Lula ou Dilma por desistência de ser algo bom. Também não se trata de ser Temer, que também nada apresenta, não é um indivíduo.

O indivíduo é a manifestação de uma capacidade, e esta manifestação estimula a quem o vê. Esta estimulação é por criar indivíduos também excelentes. Janaína mostra seus princípios, sua trajetória acadêmica e profissional, mostra seus amigos e o instrumento que com eles elaborou para o impeachment de Dilma. Mostra a si mesma no que ela é, na sua exata medida, sem inventar para mais ou menos, sem fazer propaganda ideológica.

A profissão de direito e a USP são honrados pela fala de Janaína. Os advogados, de quem volta e meia se duvida da honestidade, ou pelo menos da boa-vontade, devem orgulhar-se de Janaína e estudá-la. A USP deve cuidar do nível do seu ensino para que mais Janaínas sejam formadas, em todas as áreas.

Janaína não é Deus. Ele articula as coisas e cria o momento propício. O momento propício para Janaína entrar com seu pedido de impeachment foi o racha entre o PMDB e o PT. Ela percebeu que a hora era aquela. Mas que aquele era um momento tão oportuno assim, que seu processo seria conduzido de forma a vencer Dilma e o PT (uma mulher contra uma “presidenta”), Janaína não sabia. E nem precisava saber. Ela conhecia os problemas, percebeu o momento e pimba! Ela o fez com capacidade técnica e humana. Janaína, claro, foi ajudada pela sorte, mas não acredito que ela tenha pensado nisso. Quando mais se pede a ajuda de Deus, menos ele atende. Janaína também não fica se arvorando em ser “filha de Deus.”

Aquela frase “Deus não escolhe os capacitados, mas capacita os escolhidos” é ouvida por nós como um convite a que percebamos as coisas que estão rolando, e que façamos o que temos que fazer, na hora certa. Por algum motivo não explicado, tudo andará a nosso favor.

Aqueles de pensamento ideologizado têm a ação amarrada: queixam-se de diversos problemas e, para solucioná-los apostam em um herói, um deus, uma espécie de indivíduo superior. Assim os petistas abaixam a cabeça para Lula. É como se só ele conhecesse os problemas do Brasil e pudesse solucioná-los. Se rouba é por ser brasileiro demais, mas também por isso ele é bom de coração. E salvará a todos por ser esse super-indivíduo, o Brasil encarnado.

Ao verem a si mesmos como filhos de Lula, de “Deus”, os petistas acreditam-se dotados de ao menos uma porção das características dele. Os olhos dos petistas vêem as coisas sob o filtro de Lula, as suas mãos estão amarradas às dele, de modo que, se ele as faz avançar, em seguida vêm as mãos dos petistas para fazerem o mesmo, e também para apoiar as mãos principais. Eles se acham bons, como acham bom o pai. Acreditam-se capacitados e aptos a serem escolhidos.

Mas Lula não é Deus. Ele tem os esquemas dele, e milhares de seguidores, mas não controla o andamento do destino. É um homem que acreditou ser enorme, e fez muitos crerem nisso. Mas que foi derrotado por uma mulher, com visão clara das coisas e de si mesma. E sabedora que entre a mão dela e o que ela quer realizar há uma distancia que é a do desconhecimento do que vai acontecer. É a distância da sorte. E é a do torcer para se estar fazendo a coisa certa, abençoada por Deus.

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