terça-feira, 2 de julho de 2013

A escola de cada um


Não sabemos como funcionam os comandos de um avião. No entanto, acreditamos que alguém saiba. Alguém que se vista como um piloto, de preferência. Max Weber disse que para nós, modernos, o mundo é desencantado, sem magia. Sabemos muito bem que o avião não funciona por mágica. Alguém tem o saber teórico, ou o know how, saber prático, o que dá no mesmo, de como fazê-lo voar em segurança. Nós mesmos não precisamos ter esse conhecimento, para voarmos tranquilos. A crença de que as coisas são passíveis de serem totalmente conhecidas nos leva a acreditar que alguém por perto pode muito bem possuir este conhecimento.

A criança não conhece o mundo. Também não conhece muito bem seu próprio corpo. Um adulto surge e a alimenta, fazendo-a sentir prazer e alívio do mal-estar. Seu corpo, então, é algo manipulado em benefício dela própria. Mais uma situação: O ambiente está muito monótono. Neste momento alguém liga a tv, e sons contagiantes se fazem ouvir. O mundo tornou-se mais agradável desde que aquela pessoa chegou. Minha experiência agora me informa que não vivo num caos, mas num lugar que possui certo sentido, mesmo que eu não o entenda e ainda não saiba manejar os elementos ao redor ou dentro de mim. Alguém tem o seu know how, e sabe como fazer eu me sentir bem. Confio nessa pessoa, que pode ser um dos meus pais, a professora, Deus, etc, de uma forma que não é totalmente racional, por implicar em certo desconhecimento meu acerca das coisas.

A partir da confiança de que as coisas estarão bem, de que estarei alimentado antes de a fome apertar, de que não ficarei entediado ao cair da tarde, que é sempre a confiança na pessoa que faz o bem acontecer, posso experimentar mover-me no mundo e pensar sobre o que me cerca e o que está dentro de mim. As experimentações corporais e com as ideias, que resultam em pensamentos e elaboração de razões, pressupõem este tipo de conhecimento não racional que é a confiança, ou a fé, no mundo, em determinada pessoa e, então, em mim mesmo.

A criança ouve sua professora falando sobre regras gramaticais, nomes de capitais e partes de plantas. De um texto lido por ela, pela turma, e bem entendido por todos, a professora dá uma interpretação que a ninguém havia ocorrido. Parece crível o que ela está dizendo. Talvez o mundo funcione mesmo com aquela regra de certo e errado da estória. Na matemática, o jeito que a professora ensinou de fazer as divisões se revela útil de verdade, para resolver e acertar as questões que há no livro. Das divisões se saltará para as expressões, destas para as equações do primeiro grau, então para as de segundo grau, a professora diz, para nos antecipar. O raciocínio lógico ajudará a interpretar os textos daquele ano escolar, e também de todos os outros que virão. Todos ali terão boas chances de entrar em uma boa faculdade, e em aproveitar bastante o curso, seja para que profissão for. Serão capazes de fazerem-se bons profissionais, ajudando e fazendo felizes às suas famílias e aos seus clientes, empregadores ou funcionários, e realizando a si mesmas. A professora nos elogia e chama pra ver o nosso próprio futuro. Tudo andará bem, para quem anda bem.

Ter um futuro, amadurecer, aprender, parecem ser o que há de mais importante a se fazer. Perto deles, todo o resto fica menor. As crianças insistem em conversar durante a aula, comentando o lance engraçado do desenho. É urgente contar aquilo para o amigo! Ou então, se lhes dizem que a estória que contaram é mentira, ou impossível de acontecer, é como se, para o desacreditado, a alegria do dia acabasse. É questão de vida ou morte que acreditem nele! Toda essa empolgação e sofrimento parecem absolutos, intermináveis e os maiores que existem. A professora, então, faz uma divisão entre o que é importante e o que não é, ali em sala de aula. Coloca o estudo e o que ele requer, como a atenção, o empenho, a organização, etc, do lado do que é importante. Já as brincadeiras ganham o estatuto de preparação para o tornar-se uma pessoa agradável, cercada de amigos e feliz. Os choros viram o protótipo da indignação para com o sofrimento dos outros e dela própria, caso este sofrimento seja decorrente de injustiça ou dor física, ou caso seja incontornável, devido a alguma doença grave, infelicidade amorosa ou azar da vida. Brincadeiras a toda hora, e choros por qualquer motivo, recebem, na divisão da professora, o estatuto de não importantes, a despeito do que parecem para as crianças. Elas relutam um pouco diante dessa divisão, mas a entendem: conduzir-se com certa disciplina, e investir energia no estudo, são importantes para se aprender os conteúdos atuais, para não ficar burro, para aprender novas coisas mais adiante e... As associações vão ficando mais distantes, e se aproximando do mundo que parece tão grande quanto necessário de ser vencido.

A professora é mestre: conhece tudo, foi vencedora no mundo e está aí para guiar crianças. Ensina que nossos prazeres e dores não são absolutos, mas relativos, justamente porque absoluto é o ideal de felicidade e realização pessoal associado ao autoconhecimento e ao conhecimento sobre as coisas, do que depende a aquisição do conforto e do bem estar físico. Esse absoluto vai me parecendo como uma realização de mim mesmo, o máximo a ser buscado na vida. Essa realização parece distante, e os bens a ela ligados, muito abstratos, mas sinto que posso tangenciá-los através dos meus sucessos nas avaliações, acompanhadas de elogios e carinhos, e na troca de olhares alegres com um amigo, durante uma vitória no jogo.

Se este absoluto não está em mim, mas tangenciável na professora e nos sucessos que já experimento, a empolgação e a dor que sinto ficam relativos, com tempo e hora para começar e acabar, por terem sido provocados por alguma circunstância da vida. Mirando no que passo a considerar importante, posso até entender melhor as dificuldades que enfrento, e, para sair delas, o adulto de confiança me guia, fazendo uma distinção de problemas maiores e menores, de certezas e incertezas, e do quanto estou próximo ou distante de onde sonho chegar.

No diálogo platônico Primeiro Alcibíades[1], Alcibíades conta para Sócrates seu plano em apresentar-se como conselheiro na assembleia da cidade de Atenas. O belo jovem considera a si próprio mais sábio do que seus concidadãos, acerca do que seja a justiça, e, portanto, digno de poder arbitrar sobre assuntos de guerra e paz e de receber honrarias por isso. Mas como foi que ele aprendeu sobre a justiça?, Sócrates o interroga. Terá aprendido sozinho? Neste caso, em menino, ele deve ter sabido distinguir o justo do injusto, e acusar os amigos que o enganavam no jogo de dados. Alcibíades afirma que não aprendeu sozinho: foi o povo da cidade quem o ensinou sobre a justiça. Bem, Sócrates retruca, esse povo concorda consigo mesmo quanto ao que seja um bom cavalo, da mesma forma que concorda sobre a maneira de falar o grego, estando, portanto, apto a ensiná-lo? Não, o povo não concorda quanto àquilo. As opiniões dos atenienses sobre o que constitui um bom cavalo variam. E quanto ao que faz um homem ou um negócio serem justos? Quanto a isso, o povo concorda menos ainda. Então o povo não poderia ter ensinado Alcibíades nesse aspecto.

Como pode Alcibíades pretender apresentar-se à assembleia para dar conselhos acerca de coisa que ignora? Com o questionamento do amigo, o próprio Alcibíades reconhece que ora é de uma opinião sobre a justiça, ora de outra, não firmando o pé em um saber definitivo. Sócrates coloca, então, que os erros da nossa vida não têm outra fonte que a presunção de que sabemos o que não sabemos. A ignorância que presume saber é a causa de todos os males. Quando alguém se sabe ignorante a respeito de uma coisa, não se vacila quanto a ela, não comete erros.

Alcibíades, antes tão convicto de que entendia de justiça (ao menos de que entendia mais do que seus concidadãos), e de que possuía em seu corpo e alma todo o necessário a ser um conselheiro nessa questão, começa a perceber sua condição de ignorante quanto a ela, e da distância que o separa da posição que ambiciona. Sócrates afirma que o jovem depende da ajuda dele para suceder em seu projeto. Só por intermédio dessa amizade, Alcibíades alcançará o sucesso e a glória desejadas. Isso se explica pelo trabalho que o jovem tem diante de si: aprender a natureza da justiça, ser sábio neste assunto, e em outros, é cuidar de si mesmo, no sentido em que é tomar em cuidado a parte nobre da própria alma, a razão, assim como a maneira como se conduz na própria vida, a forma com que um se apresenta para si e para os outros. Mas como cuidar de algo que não se conhece? Antes, então, se impõe conhecer o que se está cuidando: conhecer a si.

Sócrates diz a Alcibíades que o povo de Atenas o adula por este ter um belo corpo, e por ser rico. Apenas ele, Sócrates, o ama por quem ele é, por sua alma. A relação entre os dois é que permitirá a Alcibíades conhecer a si, então cuidar de si. Sócrates, ao conversar com o discípulo, manifesta sua própria alma. Os discursos, e todo o restante do seu comportamento, espelham suas admiráveis virtudes. Sob a consideração de que o melhor espelho para uma alma é outra alma, Alcibíades verá a si mesmo refletido na alma de Sócrates.

Sócrates é o melhor amigo que Alcibíades pode ter. Além dele mesmo, é lógico. Pode-se dizer que o amor próprio, como cuidado de si, vem do amor que se recebe do outro. O discípulo ouve o mestre, que lhe faz pensar sobre como se conduz. Guia-lhe na utilização da razão, a parte mais divina de sua alma. Sócrates parece razoável a Alcibíades, parece fazer sentido. Mas na relação de ambos, há um quê de irracional, um componente de confiança, de fé. O próprio Sócrates tem fé no deus Apolo, e na indicação da pitonisa do templo desse deus, segundo a qual ele é o mais sábio dentre os atenienses. Por essa fé é que ele começou a investigar o que seus concidadãos sabiam sobre as coisas que diziam. Todos se revelaram, afinal, ignorantes nos seus assuntos. Embora não fizesse melhor que eles, também lhe faltando o conhecimento da natureza da justiça, da coragem, etc, Sócrates não ignorava o fato de que não sabia sobre cada uma delas, enquanto os outros continuavam presumindo saber. Nesse aspecto, sim, Sócrates era o mais sábio dentre os atenienses.

Para o grego antigo, ser feliz era prosperar nas virtudes da coragem, sabedoria, temperança e justiça. Platão colocou a sabedoria como o conhecimento do infinito, do imutável e do perfeito, e não o saber opinativo sobre o que muda, é finito e pode ser degradado. Estas são características das coisas históricas, que podemos tangenciar pelos sentidos, nós, que também somos históricos, portanto, relativos. A busca pelo conhecimento do que de fato é, do que não deixa de existir, não se degrada ou tem imperfeições, é uma mirada no que não é histórico, no que é absoluto. Sendo confrontado por Sócrates a respeito do que sabia e do que não sabia, e percebendo que o que deseja para sua vida requer o conhecimento da natureza da justiça, Alcibíades pôde começar a experienciar o absoluto, mas o absoluto fora dele, livre da presunção de que ele tudo já sabe e possui do que precisa. Alcibíades pôde, então, ver a si mesmo, medir sua estatura, seu tamanho diante da tarefa de conhecer a si e a justiça, para chegar onde queria.

A fé que temos em um ideal além de nós, e a confiança em um mestre que nos ame, ilumina os caminhos da razão, da investigação sobre nós mesmos e sobre as coisas. E permite nos melhorarmos. A professora ensina, antes de tudo, que sobre as coisas existe conhecimento, e que adquirir certa disciplina e trabalhar por este conhecimento é a condição para se alcançar o que se deseja na vida. Na verdade, saber e bem saber usar a razão, ideais que se nos chegam como iluministas, deixar-nos-iam a um passo da realização. Conhecer tem o valor de um absoluto que nos faz olhar para nós mesmos como sendo aguardados para viver maravilhas. Quem não gostaria de estar apto e habilitado a ser um astronauta? Ou, então, conseguir curar a doença gravíssima de alguém? Salvar quem se ama? Resolver os problemas do mundo? Essas coisas importantes, assuntos de gente importante, dependem de conhecimento, cuja obtenção requer que se tenha mestres para ensinar o que podemos, o que não podemos, e o que podemos vir a poder fazer. Mestres para ensinar nossa estatura diante do absoluto.

A criança aposta que a professora não apenas sabe das coisas, como sabe ensiná-las às crianças. Ela, inclusive, transmitiu-lhes a ideia de que existe algo maior do que as questões do dia a dia, que passam a ser pequenas, e que, portanto, vale a pena deixar a preguiça de lado para estudar. A professora mesma atingiu esse ideal, pois está na posição de quem ensina aos mais novos a como se conduzirem, de modo a obterem as coisas da vida que têm valor.

Agora vamos olhar para nós. Um nós não tão abstrato, mas formado por mim e por você. O que queremos da vida? Nossos sonhos, o máximo que imaginamos poder alcançar material e espiritualmente, dependeriam, ainda, do que aprendemos na escola, depois na faculdade, com estudo dedicado e esperança no futuro? Não temos a educação, hoje, como um valor. A escola pública está acabada. Os governos militares a destruíram, desfigurando os currículos e, na atenção exclusiva que deram à ampliação da rede privada, causaram a debandada das classes média e alta. Quando estes setores deixam algum serviço, perde-se a visibilidade dos seus problemas, e as solicitações por melhorias. A escola pública foi democratizada, ao preço da vertiginosa perda da qualidade.

Os governos civis que se seguiram não fizeram melhor: não houve políticas de cargos e salários e de fixação do professor na escola de horário integral; as políticas de aprovação automática e de premiação de professores estimularam a ficção de que as crianças estavam aprendendo, e de que os professores podiam ensinar sem melhoria real no salário. A incapacidade de leitura e de raciocínio lógico passou a chegar aos últimos anos da escola. A imagem social do professor deixou de ser a do mestre para ser a do recreador, e a de quem vivia relativamente bem e era considerado o intelectual da comunidade, para ser aquele que vive indignamente, que não encontrou trabalho melhor e que não tem nada de importante para ensinar.

O salário do professor gradativamente perdeu o poder de garantir o consumo de bens de subsistência e culturais. Os melhores profissionais, os mais bem formados, saíram da escola. Buscaram colocações que remunerassem melhor. A toda hora vemos campanhas dizendo que o segredo do magistério é um amor incondicional aos alunos, um amor que supere as dificuldades materiais e a desvalorização da sociedade. Ou vemos manuais e programas de televisão destacando casos de uma professora heroína na escola no interior de Goiás, ou de uma escola revolucionária em Portugal, quando, nós sabemos, o sucesso da escola depende de política de salários, que atrai bons profissionais, dão-lhes condições de se manterem e de se desenvolverem material e culturalmente. Apenas assim, o magistério voltaria a oferecer orgulho e prestígio.

As pessoas pertencentes às classes pobres desenvolvem seus ganhos de dinheiro sem identificarem na educação qualquer melhoria de suas condições de vida, no presente dos adultos ou no futuro dos filhos. A escola particular, quando é boa, é cara, paga melhor aos professores e tem os melhores profissionais. Existem poucas escolas assim, para poucas famílias em condições de pagar.  E há muitas escolas oferecendo um serviço pior, para uma classe média que vem perdendo nível de renda. As famílias de classes mais altas cultivam ainda a cultura técnica e erudita, como fator de desenvolvimento pessoal, e, também, por necessidade de distinção social. Mas, para a maioria das pessoas, este bem não mais pesa na imagem que constroem para si, que inclui o que gostariam de tornar-se, um dia. É possível vencer na vida, ser feliz e satisfeito consigo mesmo, sem educação.

Diante de uma professora, o adulto lembra da própria infância. Faço-te a pergunta: você só tem boas memórias do tempo de escola? Algo não foi aprendido, deu em nota baixa? Um sermão lhe doeu, e ecoa ainda hoje, em sua memória? Talvez você não tenha chegado onde sonhava, e a ajuda da professora, enfim, não vingou. O conhecimento, a possibilidade que ele nos dá de transformarmos a nós mesmos e entendermos o mundo, e de termos um emprego que permita algum conforto, já não são enchem nossos olhos? Bem, a verdade é que não acreditamos mais nessa estória de conhecimento, educação. E a nossa ideia é que chegamos onde chegamos por conta própria.

A professora do nosso filho nos faz lembrar das mágoas que temos do passado. Gostamos de nos achar especiais, e a professora nos deixa desconfortáveis conosco mesmos. A qualquer momento, na reunião de pais, ela pode te perguntar os afluentes da margem esquerda do São Francisco. Você não vai saber responder, a vergonha será grande. É como se ela o conhecesse de verdade, por ter te visto quando criança e agora, no que resultou. Nos envergonha saber que estamos aquém do que sonhávamos. Veja se não é a mágoa das professoras que teve quando criança, o motivo psicológico por que o administrador público faz pouco caso delas e da escola?

Em algum momento a professora deixou de nos encantar, perdemos a vontade de nos deixar levar por ela. O valor da escola está cada vez mais no que eu posso pagar. Minha relação com ela é de que a mesma não tem qualquer valor intrínseco e detido por um mestre. Seu sentido passa a ser extrínseco, dado de fora, pelo mercado. E se eu pago, posso interferir livremente. O filósofo Michael Sandel diz[2] que os valores de mercado, ao adentrarem em esferas reguladas por outros valores, como a educação, por exemplo, acabam degradando seu sentido, corrompendo sua nobreza. O valor intrínseco da educação, que é a possibilidade de transformação pessoal, seria atenuado, e estudar passaria a ser uma questão de quem pode pagar mais, ou deixaria de ter qualquer coisa de especial, a ponto de não mais ser assunto de um mestre, alguém que sabe enquanto eu não sei. Estamos no “tudo posso conhecer”, ou melhor, “tudo já conheço”. É como se, o mundo não sendo mágico, os mágicos fossemos nós. Existindo algum mestre, queremo-no longe. Não temos paciência com eles, pois nos incomoda a ideia de que possa existir algo fora do nosso alcance, e de que alguém representa isso. Encarnamos o absoluto, com nossas vontades imperiosas. Não sabemos mais admirar o que não podemos imediatamente tocar. Não conseguimos amar quem nos faz parar para pensar. Somos incapazes de nos tornar mais humanos, de amarmos a nós mesmos.







[1] Platão. Diálogos: Fedro, Cartas, O Primeiro Alcibíades. Editora UFPA. Belém. 2007.
[2] Michael J. Sandel. O que o dinheiro não compra. Os limites morais do mercado. Editora Civilização Brasileira. Rio de Janeiro. 2012.

domingo, 23 de junho de 2013

Festa da democracia.


    Tem gente que se sente bem em festas. Nelas, pessoas se reúnem para beber e trocar ideia com uns, e verem e serem vistos por outros. Há normas sendo seguidas, é lógico, e elas cobrem, com mais ou menos liberdade para variações, as roupas, o gestual, o tom de voz, a temática dos assuntos e os vocabulários. Essas normas são implícitas, e dividem os comportamentos e atitudes em adequados ou inadequados, para a reunião em que se está. Dentro desses limites, sente-se prazer por se estar diante dos outros, e com o prazer que a própria presença dá eles. O importante nessas reuniões é o estar junto, conversar frivolidades, debater opiniões, ver e ser visto, e as normas têm importância na medida em que os favorece. O prazer vem em primeiro lugar.

    Tem gente que se sente mal em festas. Implica da saia justa de uma e da beberagem cheia de palavrões, do outro. Acha que o riso deve estar fora de discussões, pois estas devem sempre ser sérias, e ocorrer apenas em reuniões bem pautadas e distintas de uma festa. Ou bem se reúne, com pautas seguidas à risca, censurando-se comportamentos que pareçam desviar dos objetivos, que devem ser pré-estabelecidos, ou bem se festeja. Mas essas pessoas inventam até de colocar as normas antes do prazer que se pode sentir em reuniões festivas, e ficam de fiscal da diversão dos outros. Para esse tipo de gente, o que elas e os outros fazem, em qualquer situação, deve ter uma finalidade, devem conduzir à aproximação de objetivos "nobres". Portanto, eles vigiam para que a abordagem de questões sociais e politicas sempre seja séria e solene. Tal tratamento para essas questões seria conseguido com a defesa de um raciocínio pensado antes, apresentado como ideologia, razão que não aceita que se raciocine sobre ela própria. 

    As ruas estão em festa. Somos milhões nos manifestando. Pagamos altos impostos, mas os serviços públicos são inexistentes. A educação e a saúde privada são cada vez mais caras e distantes até da classe média. Os transportes aviltam, a polícia ameaça e os gastos com a Copa oportunizam desvios ainda maiores do que os roubos corriqueiros de dinheiro público. Ao nos manifestarmos sobre as vivências que temos com a política e os problemas da vida na cidade, experimentamos olhá-las novamente. Então nos sensibilizamos e nos indignamos mais com eles. A experiencia do manifestar-se leva a uma outra experiência da cidade e de nós mesmos. Leva-nos a ver o que pode ir melhor no que é para todos, e, na medida em que fazemos nossa vontade ser ouvida e debatida com outras, a nos vermos como individuos que podem intervir sobre suas condições de vida, sem precisarem recorrer a pequenos acordos, escondidos e, não raro, coercitivos. O que queremos não é objetivo: a diminuição do preço do transporte não é o bastante. Penso que uma política de saúde ou educação que os pusesse para funcionar também não nos satisfaria. Mesmo que as manifestações deixem de reunir a quantidade de gente que têm reunido, a experiência de que se pode falar, desenvolver um olhar melhor sobre as coisas e organizar frentes de opinião e de demandas com entrada na agenda política, faria-nos ter a prática de opinar mais e melhor no facebook e na rua, isoladamente ou em grupos pequenos, médios ou grandes. A manifestação passou a fazer parte do nosso ethos, ouso dizer. Não vamos deixar a fantástica experiência dessas semanas simplesmente acabar. Fomos modificados, e, assim, vamos modificar a política.

    É pela festa que chegamos a desenvolver essa política. Achamos ultrapassado e bobo quem vem dizer que devemos ter foco, mirar num objetivo x ou y, e quer tentar normatizar e moralizar nosso comportamento, roupas e cartazes. Quem vem com a ideia de que devemos ter finalidade nas manifestações é alguém que está por fora da própria conversa, e que, aí sim, não queremos ter por perto. Depois dessa conversa e diversão entre nós, que venham os partidos e o governo, mas para fazerem o que queremos. Aquele tipo de militante que não sabe se divertir, pode ficar atrás da bandeira, da máscara, das "cinco causas", das normas, no passado ou em Plutão. Ele não pode estar entre nós, na política que fazemos com corpo e alegria.

sábado, 8 de junho de 2013

Tempos sem coração

Hoje se fala que Monteiro Lobato era racista. Vi professores de ensino primário afirmando não o lerem. O motivo é que a Tia Nastácia era empregada da Dona Benta. Há também o problema de que, no Caçadas de Pedrinho, a preta, ao ver a onça chegando ao sítio, sobe na árvore feito uma “macaca”. Então não é bom indicar Lobato para crianças. A suspeita de racismo logo se transformou em certeza, pois, quem quer ficar perto de um racista? É preciso mantê-lo à distancia, e nem falar muito no caso.  
 
Marisa Lajolo tem se colocado na defesa do escritor. Ela nos lembra que, no Sítio, volta e meia alguém era adjetivado de macaco. Dona Benta, Marquês de Rabicó, Emilia: bastou que subissem muito rápido numa árvore, para se protegerem de onça, e viraram macacos. Pode-se trazer, ainda, o exemplo do O Presidente Negro. Nos Estados Unidos, no futuro, um presidente negro fora eleito. Contudo, forças políticas se opuseram ao resultado da eleição, chegando a atentar contra ele. Quem diria que nos Estados Unidos, e num tempo mais adiantado, atravancar-se-ia a democracia por racismo?
 
No prefácio do Contos Escolhidos de Monteiro Lobato, organizado e prefaciado por Lajolo, está que ele viveu num cenário de mudanças. Em 1910, São Paulo dava sua arrancada definitiva rumo à modernidade industrial. O cenário cosmopolita, de gostos renovados, vitrines e ruas com produtos e modas chics, encontrava a rua do tráfego de carros, multidões e vapores de fábrica. Levas de imigrantes estrangeiros e migrantes do campo chegavam em busca do seu quinhão, mesmo que tivessem que trabalhar muito. O capital retirava-se das fazendas, deixando-a sem plantação, sem trabalho, sem gente. Jeca Tatu permanecia com sua vida simples, ligada às tradições que a cidade rejeitou como atrasadas, e às doenças que ela sanitarizou.
 
Os contos deste livro são causos do homem na aventura de dominar a imensurável força da natureza. O colono conhecia as matas difíceis, e as manhas da onça pintada. Os truques da menina com saia de chita faziam os cabras terminarem na faca ou na cadeia. O fazendeiro punha sua mão sobre a terra brava, amansando-a para erguer seu reino, contrariando as pragas que tomavam o gado e as geadas que causticavam feito fogo as plantações. São memórias de um tempo que estava para acabar.
 
Havia também o negro visto como ex-escravo. Em “O jardineiro Timóteo”, o personagem principal, o próprio Timóteo, há quarenta anos cuidava dos jardins de uma mesma fazenda. O conto diz que, sendo Timóteo um bom homem, era um negro branco por dentro. A leitura do texto não pode se abalar ou perder o ritmo, por isso que foi dito. A narrativa nos suga para dentro da estória e não permite que desgrudemos do livro. Timóteo não tinha inteligência para conversar com os patrões, nem servia para outro trabalho que não o de ser jardineiro. Ele era para o jardim, o jardim era pra ele.
 
Durante o tempo de cultivo das flores, Timóteo presenciou muitos acontecimentos no jardim e na fazenda. Fez seu registro em cada exemplar floral, por uma associação que apenas sua sensibilidade conhecia.
 
“Timóteo compunha os anais vivos da família, anotando nos canteiros, um por um, todos os fatos dalgumas significações. Depois, exagerando, fez do jardim um canhenho de notas, o verdadeiro diário da fazenda. Registrava tudo. Incidentes corriqueiros, pequenas rusgas de cozinha, um lembrete azedo dos patrões, um namoro de mucama, um hóspede, uma geada mais forte, um cavalo de estimação que morria – tudo memorava ele, com hieróglifos vegetais, em seu jardim maravilhoso.” (trecho de "O jardineiro Timóteo", presente em Lajolo, Marisa. Contos Escolhidos de Monteiro Lobato, pag 95, 2ª edição)

Mãos alheias jamais poderiam tocar seu jardim. “Não têm qualquer delicadeza”, dizia. Apenas ele, por autoridade e sensibilidade, podia mexer naquela terra e em sua vidas, ser leitor da poesia contida no acamado singelo e rústico. Lia em voz alta. Na cozinha as pretas riam da insânia, mas Sinhazinha compreendia “as delicadezas do seu coração”. Timóteo presenteava-lhe sempre a primeira rainha margarida do ano.

Então chegaram os novos donos do lugar. Gente da cidade, com gostos avançados demais. Onde punham os olhos, ordenavam mudanças drásticas. A mobília, as paredes, a divisão dos cômodos, os jardins, tudo era antiquado, ridículo, e seria removido. Nada de hortênsias, esporinhas, flores caipiras. Agora só flor moderna, grandiloquente: crisandálias, crisântemos, o fino da floricultura alemã. Chamaram Timóteo para limpar aquela porcaria. O preto paralisou-se. Suas mãos, que deram a vida, conseguiriam por fim a existências tão existentes quanto a de qualquer um daquela fazenda? E mais nobres, até?
 
A mão que trabalhou a terra ganhou um coração. A terra e seus frutos, remexidos pelo preto, também ganharam coração, alma. Guardavam a memória de gerações de flores e de gentes. Aqueles brancos desconheciam isso. Eram capazes de ceifar vidas, e o pior, sem dar por isso. Nem a morte era feita por suas próprias mãos, então não formavam sentimento.  

A terra vai ficando estéril nesses contos de Lobato. O preto é ignorante, o branco, conquistador do novo. O branco é bom. É bom até o momento em que adentramos no interior das fazendas, e vemos quem lida com a vida e quem apenas manda fazer. Se não suja as mãos não é vivo, tem coisa nenhuma para contar. Nas trocas de dono, ou quando a geada causa a falência e o fim de uma fazenda, nenhum branco das mãos limpas fica para dizer quais eram as vidas e estórias que haviam ali.

Eu andava pela rua, pensando no racismo do Lobato e no Timóteo, quando passa por mim uma negra retinta com vestido branco amarelado, todo de renda. Atravessava a rua no sinal fechado, descalça e aparentemente alheia aos carros. Parecia que tinha caído de paraquedas em um lugar onde os seres movem-se em máquinas barulhentas e apressadas. Ao se aproximarem dela, os carros pararam as rodas e moveram o botão da buzina. Deu um estalo na mulher, que se pôs a correr na direção à calçada oposta. Continuou sem destino, sem olhar para os lados. Quem ali estava a olhou com estranheza. A preta estava fora do seu jardim, como poderia falar?  
 
Esses carros bem que poderiam pegar a estrada que dá na fazenda de Lobato. Nós precisamos (re)adentrar sua porteira e livros. O que ele tem para dizer sobre negros, brancos, colonos, fazendeiros é impossível descobrir sem uma visita ao jardim. Cheire as flores, ouça a narrativa, suje as mãos com a terra. Acalme a pressa que nos faz acreditar não termos nada novo a ouvir; a pressa que não permite vermos aquele que foi chamado de ignorante também ser considerado sábio e dotado de alma. Lobato era ficcionista, não teórico. E não tinha posições pró ou contra o negro. O que ele tinha eram personagens que lutavam, oprimiam, perdiam tudo. Eram ignorantes, sábios, desumanos e sensíveis. Como podem ser ignorantes e sábios, ao mesmo tempo? E o quanto o progresso sem o comprometimento do homem com o que faz e diz acaba comendo vidas, brancas e negras, e nos deixa  incapazes de dizer e ouvir de uma pessoa que cruza a rua?

sábado, 1 de junho de 2013

Choro de filho preterido


 
    Recentemente passou na Rede TV um casamento entre um homem e uma mulher. O apresentador fez estardalhaço, dizendo que tal coisa, que é tão normal, há muito tempo a TV não mostra. Temos falando muito em heterossexuais. Não me lembro de outro momento em que se falou e se preocupou tanto com isso. Qual a razão?
 
    Pessoas que se reconhecem como gays têm pleiteado direitos. Ser um indivíduo em uma democracia liberal, o nosso regime de governo, significa poder ter opiniões, necessidades e demandas próprias. É assim que se aparece e consegue coisas, politicamente. Nosso liberalismo dedica atenção especial a grupos identificados por uma característica comum, quando a esta caracteristica colam-se certas reações sociais de hostitlidade e agressividade, levando a uma perda de direitos. Serve para corrigir práticas de exclusão ou violência contra um indivíduo por sua identificação racial ou sexual. Desta forma, as minorias têm aparecido, têm recebido atenção nos debates públicos e tornaram-se agenda política.
 
    Os que se levantam contra o direito de casamento civil e contra a lei anti-homofobia, leis que vêm atender os que se identificam com o estilo de vida ou características e práticas gays, não estão preocupados, na verdade, com a "defesa da família", nem com a liberdade de expressão. Estão, na verdade, ressentidos por não serem indivíduos de destaque. A mídia mostra certa opinião comum da sociedade. O governo é sensível a ela. Há quem passe a vida, contudo, reclamando deles. "A mídia manipula e o governo é corrupto." Não possuem a cultura que gostariam, ou os salários que considerem a que façam jus. Mas, ao invés de buscarem mudar essa condição, fazendo bem uma boa faculdade, com ou sem apoio externo, ou buscando politicamente, em associações de classe e apoios de representantes públicos, melhores condições de vida ou trabalho, queixam-se de quem recebe atenção e têm conseguido justiça. E defendem falsamente a liberdade de expressão, pois, se sua opinião fere a liberdade dos outros, dando força às práticas de ódio contra eles, o que querem não é um "direito de expressão", mas de ferir o direito do outro.
 
    Dizer que se é contra gays, e que se tem o direito de dizer isso, precisa realmente ser proibido, em nome exatamente da liberdade de expressão e de outras liberdades. Não posso ter o direito de dizer que sou contra os gays, pelas consequencias a que este discurso leva. Sem falar que isso é algo esquisito, uma preocupação infeliz com a alegria do outro. O que tenho a ver com o fato de o outro ser gay? Será que penso tanto assim na minha família, e na sociedade? Ou será que, com mais pessoas aparecendo fazendo o que gostam, e com direitos, fica ainda mais feio ser ressentido, infeliz e invejoso?

Como você tem tratado seu cachorro?



    Você tem cachorro? Ele fica preso no quintal, ou na garagem? Traga-o pra perto de você! Um cachorro fica profundamente triste, deprimido mesmo, quando não pode conviver de perto com o seu dono. Eles precisam nos ter à vista, ser a nossa sombra pela casa, para nos observar, entender e formar o próprio comportamento. Isso é uma verdade. Só que precisamos ainda mais deles do que eles de nós. A confiança de um cão por seu dono é irrestrita e infinita. É o melhor espelho que podemos ter, para nos ensinar a sermos pessoas melhores. Isso porque, além de aprendermos a não falharmos com o amor que recebemos, esse amor nos faz amar a nós mesmos, a cuidarmos do que fazemos, do tipo de pessoas que somos e do cuidado e carinho que damos ao cão e a tudo o mais que achamos importante.
 
    Ele é um filho, alguém que nos faz olhar e cuidar de nós mesmos. Você deixaria seu filho preso? Saiba que se faz isso com seu cachorro, certamente não está acertando como pai do seu outro filho. O cachorro sente-se abandonado quando deixado longe, ou preso. Seu cachorro é deixado no quintal de frente da casa com o intuito de guardá-la? Mesmo as raças consideradas de guarda, como o Doberman e o Pastor Alemão, precisam da nossa companhia. Durante o tempo em que você passa em casa, e acordado, deixe-o circular pelos espaços onde você está. Quando você for dormir, se ele tem mesmo essa função de segurança, deixe-o no quintal. Mas só enquanto você estiver dormindo ou na rua. Se organize para isso. Já as raças que não são de guarda, podem até latir, mas a verdade é que não espantam ladrão nenhum. Então não há porque tirá-los de dentro de casa!
 
    Pense seriamente na relação que você tem com o seu cachorro. Ele não dura muito tempo, mas o tempo que está aí é mais que o suficiente para ser o melhor amigo que podemos ter. Feliz, saudável e evoluída espiritualmente é a pessoa que se deixa amar por um cão. Incapaz de amar, triste e propensa ao mau caratismo a pessoa que se fecha para essa relação, ainda mais tendo um cão em casa. Pense nisso seriamente, experimente olhar para o seu cão pensando nessas coisas. Ainda dá tempo de retribuir o que ele sente por você, e deixar que ele e você vivam com alegria.

Insussexo

 
    Uma pessoa que tenha comportamentos ou identidades gays, se os manifesta à vista dos outros, causa incômodo. Temos medo que o sexo esgote nossas energias, e o gay parece estar sempre disposto a largar tudo pelo prazer sensual. A participação na vida em sociedade cobra o preço de não vivermos à vontade o impulso sexual. O gay não parece, ao menos para alguns de nós, conformar-se plenamente a esta regra. Está feita a cama para nos sentirmos injustiçados, em comparação com os gays. Daí para o ódio, é menos que um passo. 
 
    Uma atividade social como o trabalho, o estudo ou uma conversa, na hipótese de que seja a sublimação do impulso amoroso, resolveria, ainda que temporariamente, esse mesmo impulso. Os engenheiros da grande obra do Maracanã, por exemplo, com o prazo curto que têm para concluí-la, encontrariam-se em completa abstinência. Alguém mais ligado à intelectualidade, durante a escrita de um texto ou de uma investigação, estaria muito longe de pensar em sexo. Depois do trabalho, porém, o engenheiro e o intelectual estariam livres para gozar. Após a conquista social o gozo individual é permitido.
 
    Entretanto, o contrário também acontece: o impulso de interesse sexual, sendo o mesmo do interesse social, por simplesmente ser impulso de interesse, erótico, pode juntar uma grande conquista a uma grande trepada. O cavaleiro vence uma batalha e pega a mulher do inimigo por ali mesmo, para consumar a vitória. O sexo forte pode fazer um pesquisador sentir-se potente para o desempenho intelectual. Sexo é poder, e poder é agir sobre as coisas, incluindo o corpo do outro. Nada mais excitante que isso.
 
    A censura ao sexo, por interferir na dinâmica excitação - relaxamento, que é a mesma do desejo ardente - conquista, traz grandes danos ao indivíduo e ao país. Se é censura de imagens sexuais, tira do indivíduo a representação da recompensa do seu esforço. Se é censura dos beijos e carícias que troca em público (ou em casa), tira dele a possibilidade de regular e distribuir a própria energia entre prazer e trabalho. Se o trabalho é uma porcaria, por ser indigno (como o do professor) ou por fazer mal às pessoas (como o do Feliciano e do Eike Batista), então, já não pode ter nada mesmo a ver com prazer. Junte isso tudo e tenha alguém com graves sintomas neuróticos, incapaz de funcionar bem em qualquer coisa. Será alguém sem condições de entender a liberdade do outro em usar o prazer e a capacidade produtiva, acoplado a comportamentos e identidades gays ou não, fazendo-se feliz e realizado.

   Os gostos e comportamentos gays ou não gays, quando sensuais ou até obscenos, não precisam nos fazer pensar em baixa produtividade ou incapacidade de realização. Eles podem trazer, pelo contrário, as mais importantes e belas conquistas. Podemos desejá-los.