sábado, 1 de junho de 2013

Insussexo

 
    Uma pessoa que tenha comportamentos ou identidades gays, se os manifesta à vista dos outros, causa incômodo. Temos medo que o sexo esgote nossas energias, e o gay parece estar sempre disposto a largar tudo pelo prazer sensual. A participação na vida em sociedade cobra o preço de não vivermos à vontade o impulso sexual. O gay não parece, ao menos para alguns de nós, conformar-se plenamente a esta regra. Está feita a cama para nos sentirmos injustiçados, em comparação com os gays. Daí para o ódio, é menos que um passo. 
 
    Uma atividade social como o trabalho, o estudo ou uma conversa, na hipótese de que seja a sublimação do impulso amoroso, resolveria, ainda que temporariamente, esse mesmo impulso. Os engenheiros da grande obra do Maracanã, por exemplo, com o prazo curto que têm para concluí-la, encontrariam-se em completa abstinência. Alguém mais ligado à intelectualidade, durante a escrita de um texto ou de uma investigação, estaria muito longe de pensar em sexo. Depois do trabalho, porém, o engenheiro e o intelectual estariam livres para gozar. Após a conquista social o gozo individual é permitido.
 
    Entretanto, o contrário também acontece: o impulso de interesse sexual, sendo o mesmo do interesse social, por simplesmente ser impulso de interesse, erótico, pode juntar uma grande conquista a uma grande trepada. O cavaleiro vence uma batalha e pega a mulher do inimigo por ali mesmo, para consumar a vitória. O sexo forte pode fazer um pesquisador sentir-se potente para o desempenho intelectual. Sexo é poder, e poder é agir sobre as coisas, incluindo o corpo do outro. Nada mais excitante que isso.
 
    A censura ao sexo, por interferir na dinâmica excitação - relaxamento, que é a mesma do desejo ardente - conquista, traz grandes danos ao indivíduo e ao país. Se é censura de imagens sexuais, tira do indivíduo a representação da recompensa do seu esforço. Se é censura dos beijos e carícias que troca em público (ou em casa), tira dele a possibilidade de regular e distribuir a própria energia entre prazer e trabalho. Se o trabalho é uma porcaria, por ser indigno (como o do professor) ou por fazer mal às pessoas (como o do Feliciano e do Eike Batista), então, já não pode ter nada mesmo a ver com prazer. Junte isso tudo e tenha alguém com graves sintomas neuróticos, incapaz de funcionar bem em qualquer coisa. Será alguém sem condições de entender a liberdade do outro em usar o prazer e a capacidade produtiva, acoplado a comportamentos e identidades gays ou não, fazendo-se feliz e realizado.

   Os gostos e comportamentos gays ou não gays, quando sensuais ou até obscenos, não precisam nos fazer pensar em baixa produtividade ou incapacidade de realização. Eles podem trazer, pelo contrário, as mais importantes e belas conquistas. Podemos desejá-los.

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