sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"O fim do amor"


Como você já deve saber, Angelina Jolie e Brad Pitt se separaram. Um jornal carioca noticiou-o como “O Amor Acabou”. O palco é o lugar para onde o homem olha para se enxergar. Os enredos são acompanhados, e os dramas sentidos, como uma forma do homem observar a si mesmo.

Após a peça, ou no intervalo da novela, o comentário volta-se à decisão de um, ao sofrimento de outro personagem. A ficção é o espelho da nossa realidade particular. Mas acabou o amor, com a separação de Jolie e Pitt? O amor deles era O Amor?

Se a peça é o nosso espelho, a vida do ator que a interpreta também o é. O ator, o que tem por profissão encenar, falsear, em sua vida particular só pode ser verdadeiro. Assim pensamos. Por isso gostamos de bastidores, de fofocas.

Após atuar em diversos pares românticos, Pitt casou-se com Jolie. Então certamente ela é a verdadeira mulher dele, é por ela que ele tem amor. Também Jolie, tendo interpretado mulheres que viveram e sentiram todo o tipo de coisa, estando realmente casada com Pitt só pode ter por ele um sentimento também real.

Reservamos o uso da palavra amor ao que permanece. Sabemos que somos temporários, que o que vivemos e vivenciamos passa tão rápido quanto uma novela. Às vezes mais rápido do que uma temporada de série. Então o que dura tem cheiro de eterno. E só podemos atribuir a palavra “verdadeiro” ao que nos parece eterno.

Jolie e Pitt adotaram crianças. Diferentemente das crianças das quais eles porventura possam ter sido pais, na ficção, aqueles são seus filhos reais, justamente por permanecerem com eles no lugar onde parece que o tempo não passa: a casa. A casa é o reino da geração, enquanto fora dela é o reino do ciclo da natureza, o do nascer e do morrer.

Segundo Platão, em O Banquete, gerar é o que faz o homem saltar do tempo da vida e da morte, e tocar a eternidade. Em uma família, as pessoas morrem, mas os lugares permanecem, e cada ocupante vai deixando suas marcas. O amor entre Jolie e Pitt gerou os filhos que eles adotaram.

Após casarem, eles continuaram fazendo pares românticos com outras pessoas, na ficção. Pitt, por exemplo, chegou a gravar com Julia Roberts. Dizem que existe algo chamado “beijo técnico”. O beijo sem língua, é “técnico”? Encostar a língua no lábio do outro, é uma intimidade?

A língua na língua, um acidente causado pelos dois, parece ser traição em relação ao terceiro. E uma cena de sexo, feito com tapa-sexo? Os atores estão obrigados a estarem ali, mas têm aquele ato particular de protegerem-se da intimidade com o outro.

Nossa necessidade de ficções coloca os atores nus, numa cama. Mas deles também se espera o ato de usar o tapa-sexo. Essa vontade parece ser o que separa a intimidade/traição da não intimidade/não traição, pois ela leva ao uso de algo que cria uma barreira ao contato íntimo.

William Bonner e Patrícia Poeta, nos bastidores, reuniam-se para discutir o JN. Faziam juntos o que fazem de melhor. Passavam horas, naquilo. De vez em quando riam, de vez em quando se emputeciam um com o outro. Depois voltavam à concentração.

Mesmo havendo esse envolvimento, compartilhamento do que mais gostam, se não ocorria o toque, o envolvimento não era amoroso. O envolvimento era de trabalho. Apesar disso, quanto mais tempo durou a parceira deles, mais pensávamos que eles estavam na ante-sala de um romance.

Bonner e Jolie. Fátima e Pitt puseram fim às relações que permaneciam enquanto as parcerias de trabalho dos seus integrantes trocavam. Nesses papéis públicos, em que há troca de parceiros, todos vêem casos, lances de amor. Mas, desligando a tv, todos sabem que a relação deles não é aquela.

Verdadeiro era Bonner e Fátima, Pitt e Jolie. Eles é que permaneciam, sobrevivendo à troca de capítulos, gerando filhos. O fim dessas relações, aí sim, é o fim do amor.

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