terça-feira, 23 de setembro de 2014

Conversa de João com Maria

Oi, Maria. Tudo bem? Tudo, e vc? Bem! Estou com saudades de vc, vamos nos ver? Não sei. Gosto de conversar com vc, pelo zap, mas não quero encontrá-lo. Vc me machucou muito, no namoro. Desculpa. Foram muitas discussões, vc sempre quis ter razão, era estúpido, muitas vezes. Sim, às vezes sou grosso, querendo explicar meu ponto. Sabe, está sendo bom conversar com vc, estamos sendo amigos, coisa que não imaginei que pudesse acontecer, mas não quero envolvimento. Entendo. Tenho defeitos. Sim, vc tem defeitos. Eu passei a nossa relação toda mexendo e remexendo meus defeitos, querendo melhorar. Acho que é coisa dos trinta, refletir sobre os próprios defeitos e ver se evita alguma coisa. Os homens de trinta são imaturos. Mais do que os de vinte? Os de vinte não se preocupam em ser maduros. O que é pior, preocupar-se com ser maduro ou ser imaturo? Isso está me parecendo provocação, João. Sabe, vou dormir. Bj. Bj. Ele quis sair com ela. Entrou, contudo, numa discussão sobre ele mesmo. A conversa poderia ter sido encaminhada de outra forma, para, quem sabe, ele ter o que queria. Você não gostaria de me ver, não tem saudade? Tenho vontade, mas não dá certo entre a gente. Vamos ir num passo de cada vez. Sei que meu defeito é insistir em discussões, tentando sempre ter razão. Acho que ficarei mais calado. Sim, é bom para vc mesmo, escutar mais. Então, deixa eu ser mais carinhoso. Vou escutá-la mais. Não dá, já terminamos dez vezes. Vamos continuar como estamos, só amigos. Tudo bem, nos encontramos como amigos (de repente...). Podemos ir ao cinema. Você costuma convidar suas ex, para sair? Não, só vc. Sabe, vc tem razão, sempre acabo discutindo com a pessoa e estragando a relação. Vc é muito confuso. Estou fazendo sentido, agora? Não. Eu aceito sair como amigo, e a ouvirei mais. Sabe, está tarde, preciso dormir. Bj. Bj. Ele continuou sem conseguir o que queria. Seria amigo, foi avançando devagar. Prometeu fazer o que ela considerava bom que ele fizesse. Ela chamou-o de confuso, e ele quis apontar que estava sendo claro. Ele quer ser alguém claro. Sair como amigos podia ser um interesse em comum? Ela tinha outros interesses, que o excluiam. Ele foi chamado de discutidor? Ele sabe que é. É uma das características pela quais ele se reconhece, como sua essência. A conversa que lhe atendesse, contudo, deveria efetivamente ser tão conversa quanto possível, mais acordo e menos prova de si mesmo. O interesse dele é legíítmo. O receio dela, também. A conversa precisa ir se azeitando, na prática. É o que pode levar ao consenso e ao atendimento de ambos, mesmo que os interesses sejam modificados. Não há certeza de convencimento do outro, e de obtenção do que se quer. Mas é melhor conversar do que impor-se e seu mundo aos outros e a si mesmo, e viver ou em guerras, ou insatisfeito.

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