terça-feira, 25 de março de 2014

Aprendendo a amar Em Família

Na novela Em Família, a personagem Luíza tem um jeito de lidar com o que sente e tem vontade de fazer, enquanto sua mãe, Helena, tem outro jeito, e a avó, interpretada pela Natália do Vale apresenta mais um jeito. Helena namorava Laerte, mas não escondia um sentimento por Virgílio. Podia não ter sido intenção dela provocar ciúmes no Laerte, mas ele perdeu o controle desse sentimento, levando ao esfacelamento do triângulo. Helena casou-se com Virgílio. Contudo, após anos, reconheceu para si mesma que não o amava. Virgílio, para ela, deveria sempre ter sido o terceiro de uma relação tendo Laerte como o segundo. Sem Laerte, não havia como amar Virgílio. Helena jamais disse isso ao marido. Tampouco disse que sua recusa em falar sobre Laerte era não uma raiva contra ele, mas raiva por tê-lo perdido. Helena não falava mais sobre o que sentia. Luíza, sua filha, começando a viver os próprios dramas, não esconde do namorado o quão interessante Laerte lhe parece. O rapaz fica, obviamente, possesso pelo ciúmes. Luíza conta à mãe sobre as qualidades que só ela vê em Laerte. Helena diz não concordar. No entanto, trancada no quarto, a raiva vai ganhando a companhia da admiração pelo antigo amor. A mãe de Helena, por sua vez, encontra-se apaixonada pelo namorado. Na companhia dele, sai para divertir-se, faz sexo, ri com leveza, apesar de a ex-mulher dele sempre aparecer para perturbá-lo. No diálogo Fedro, e, principalmente na República, de Platão, a alma do homem é dividida em três partes: uma parte do intelecto, uma das emoções, e uma da vontade prática. Cada homem possui uma dessas partes mais desenvolvida, e isto corresponde à posição social e de trabalho que ele deve ocupar, para que a sua cidade funcione bem, funcione ajustadamente, seja justa. O intelectual deveria ser o rei, o rei-filósofo. Exercendo outra função, os defensores e guardas internos deveriam sentir no peito o impulso emocionado para proteger seus concidadãos. Eles deveriam, no entanto, saber controlar-se no que fazem, sua razão servir ao equílibrio das emoções. Já o trabalho de agricultura, indústria e comércio era para quem tinha os apetites, a razão prática, produtora e provedora, ressaltada. No Fedro, especificamente voltado ao Amor e à alma de quem ama, Sócrates demonstra que o impulso por entregar-se ao amor e atirar-se de uma vez ao amado precisa ser disciplinado, precisa passar por um controle da razão, evitando que o objeto do amor se assuste, e que o próprio amado perca de vista as outras coisas que precisa fazer, na vida, além de namorar. O Amor acontece com alguém, que precisa aprender a vivê-lo. Quando estava na idade da filha, Helena viveu e expressou o quanto quis as próprias emoções. Em adulta, faz o oposto, esconde o que sente, não faz o que quer. Assiste a si mesma, repetida, na filha. Através dela, começa a avaliar a forma como ela mesma agiu, quando jovem. Não deveria ela ter se contido em relação a Virgílio, seu amigo, atentando-se para o trabalho de Laerte em entender aquela relação, e no uso dele da própria razão, em conciliar o amor e o ciúmes que sentia por ela? Como ela poderia ter cuidado melhor do seu amor por Laerte, não confundido-se com Virgílio e direcionando seus atos e expectativas românticas para o primeiro?
Helena tem então oportunidade para visitar o que sente, podendo, afinal, encontrar uma forma de expressar isso. Ela precisará aprender a amar Laerte, já que é por ele que sente isso. Mas todos sabemos que o recomeço dela será atabalhoado, muitos desentendimentos acontecerão entre ela e a filha, ela e Virgílio e entre o que ela acha que deveria sentir e o que de fato sente, por Laerte. Ela voltará a agir como jovem, para poder amadurecer. Enquanto isso, sua mãe está curtindo. Ela não sabe tudo sobre a vida do seu namorado. Não sabe se ele a trai, nem procura saber. O amor é coisa que acontece poucas vezes na vida de uma pessoa. Quando acontece. Na maturidade, já se sabe que, ao lado do auto-controle, o amor tem um quê de cegueira, um não saber de tudo, em nome do relaxamento e do prazer. O desastre pode acontecer, e o amor acabar, mas não se morrerá disso, certo?

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