terça-feira, 25 de março de 2014

Para saber o que se fala

O que eu sou? É o que aparento ser. Podemos dizer assim, não? Observo o que acontece, leio e discuto coisas do meu interesse, e aí vou sendo e me mostrando. Gosto de boas tiradas ou piadas, com qualquer tema ou alvo. Basta que sejam boas. Considero que devamos ter cuidado para não contribuir para a indisposição social contra um grupo, não atrasar o processo que leva a minorias, por exemplo, a serem aceitas e bem vindas no seu modo de viver, de aparecer. O Costinha, na minha época de criança, fez muitas piadas sobre gays. Foi a maioria das que ele mostrou. Cresci vendo e rindo com suas caricaturas. Eu sabia que eram caricaturas, uma demonstração excessiva, e, por isso mesmo, mais reais do que o real. Nenhum gay era daquele jeito, mas se fosse, seria engraçado. Mas de um engraçado que dava vontade de estar ao lado daquele tipo, rir com ele. Eu gostaria de conhecer um dos personagens dele. Antes do que aumentar o preconceito contra os gays, as piadas do Costinha amenizavam qualquer rusga ou suspeita que pudesse haver com relação a este grupo. E mais: faziam-me querer conviver com gays, mesmo que pudessem não ser tão alegres quanto os do Costinha. Na escola, aprendi o que são gêneros textuais, e o que é uma ficção. Aprendi sobre a condição de grupos da sociedade, nas aulas de geografia e história. Indignava-me as desigualdades, as violências, etc. Divertia-me com contos, piadas, estórias engraçadas. Hoje, sou sensível aos problemas das outras pessoas, e que também são meus. E tenho bom-humor. Na internet, posto coisas a favor dos gays, mas também faço piadas. Quem me vê pode ficar confuso: "O Thiago é a favor ou contra os gays? O Thiago é de esquerda ou de direita?". Acho bom que haja confusão. Não acho bom que a confusão dê lugar à certeza de que defendo os gays de uma forma burra, sem entender o que é preconceito e o que é humor, sem diferenciar o que é ruim do que é bom, como faz uma militância ignorante e triste, carrancuda. Para quem está confuso, ainda não tendo se decidido por "quem é o Thiago", eu explico que o conceito de algo é a sua definição, e que esta definição deixa de lado uma porção de outras possibilidades para este algo (o que fica de fora do conceito é o preconceito), e que também há o pre-conceito, que é uma ideia vaga do que seja determinada coisa, uma definição imprecisa, antes de se ter o conceito. Nos anos 80, falou-se que o gay transmitia AIDS. Isso é um conceito terrível, justificou muita violência. Hoje, após filmes como Breakfast in Pluto, a Priscila (Rainha do Deserto), após o Costinha, o Jô, e agora, com o Jean Willys, o que estava na periferia do conceito de gay, que eram elementos que tinham a ver com alegria, irreverência e inteligência, começam a mudar o próprio conceito. Hoje há um conceito de gay mais expandido, e, assim, a aceitação social para com ele aumenta. Tem gente que quer defender os gays, os negros, etc, mas não sabem o que é preconceito. Também não sabem o que não é reforçamento de um preconceito. Estão no pré-conceito quanto ao preconceito, ainda não chegaram a saber o que é este conceito. Então, tudo o que se diz, que cite uma minoria, parece potencialmente ruim. Essas pessoas preferem que ninguém apareça falando sobre isso. Na matéria deste link (http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/cultura-e-lazer/segundo-caderno/noticia/2011/12/apos-comentario-de-apresentador-criolo-diz-nao-vou-rir-ai-parece-que-e-defeito-o-cara-ser-homossexual-3587120.html), a resposta do Criolo ao Clemente foi que ele não iria rir, pois vai parecer que acha que ser gay é ruim. Então nos isentamos de falar sobre as coisas. Todos vemos com maus olhos quem tem preconceito. Isso, que poderia ser uma coisa boa, a nos levar a justamente falar mais sobre o que é preconceito, e a forçar a que existam conceitos mais generosos, nos leva a não falar mais nada, por vergonha, por medo de parecermos preconceituosos. E se não falamos sobre essas coisas, a escondemos, não ficamos livres delas. Queremos posar de bem intencionados, mostrar que somos contra preconceito contra x ou y. E queremos calar a boca de quem conte uma piada. Só de não contar piada sobre gay, já faz alguém parecer que é sem preconceito. E um acusa o outro disso, sem discutir mais, parecendo mesmo que faz muita coisa pelos gays. Mas não faz nada que os ajude. Antes esconde o que pensa, se é que pensa alguma coisa a mais do que "tudo é preconceito". E contribui para o que se pensa sobre gay, negro, etc, permaneça bem curto, coisa tratada com falsa inteligência e boa-intenção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário