terça-feira, 14 de junho de 2016

A fidelidade dos números


Quatro mais quatro são oito. Seis mais dois são oito. Sete mais um são oito. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete e, agora, pode crer que há o oito. O oito sempre será o resultado deles. Ao oito é fácil ser fiel, manter-se atado ao quatro mais quatro, e responder àquelas outras convocações.

A criança, que pensa por casais, e por casais com um filho cada, toma o quatro como o primeiro e o outro quatro como o segundo elemento do casal. E o oito é o necessário, e exclusivo, produto dessa união.

É claro que o seis e o dois não podem fazer o oito, assim como ela própria, a criança, não pode ter nascido do casal da porta ao lado. Ela é filha de pais iguais, quatro e quatro. Ambos contribuíram na mesma medida para fazê-la. Há, aí, uma ideia e uma sensação de simetria.

A criança é simétrica, arredondada, par homogeneamente misturado. Se o oito também puder ser produzido pelo seis e pelo dois, é um oito assimétrico: ele terá puxado mais do pai do que da mãe.

Bem, as crianças frequentemente dizem que são filhas do pai, mas são cópias da mãe. Isso quer dizer que são filhas do quatro, algo que sai dele e, sendo assim, dele difere, e que elas são quatro identicamente à mãe. Puxaram os olhos, o nariz e a boca do pai, mas são inteirinhas as suas mães.

São como se fossem a própria pessoa da mãe: vestem suas roupas, sentem fome, tomam banho e dormem junto dela. E sentem ciúmes do pai, também ficando de namorico com ele. O namorico com a mãe é com o espelho, com uma igual a ela. O namorico com o pai é com alguém diferente delas, pois, diante dele, não são quatro, mas a filha do quatro.

Ao mesmo tempo, imaginariamente, a criança é uma parte do quatro, um quatro inteiro e, não esqueçamos, o oito. Ela é descendente do pai, herda coisas dele, mas não tudo, permanecendo distinta dele. Ela é uma cópia da mãe, repetindo os mesmos passos dela, sendo a mesma coisa que o refletido pelo espelho. E ela, mesma, é totalmente uma outra coisa.

Pelo pai, a criança é beneficiada. Pela mãe, duplicada. Por ambos, ela é ela mesma. De quatro mais quatro, é certo que surja um oito. Números são fiéis. O oito, porém, um dia descobre que é diferente de cada um daqueles quatros.

A criança é um produto também do pai, e se o pai é quatro, ela só pode ser outra coisa, um outro número. Dois é o número que ela pode pensar quando mira no rosto do pai, é o que saiu dele. Quando pensa na união entre o pai e a mãe, ela, que era quatro, igual á mãe, soma-se aos dois do pai, dando seis. A criança é quatro e seis, a mãe e a mãe + o pai. Nesse arranjo, ela não é oito.

Ela poderá, então, começar a imaginar a união dela com alguém diferente, não simétrico a ela: dois, quem sabe, com quem formaria um oito? Mas dois não é muito pouco? Então tá, ela vai arrumar, no mínimo, um outro seis. O par deve ser igual a ela.

Mas será que dá pra arrumar outro seis? É mais fácil ela arrumar um dois, e pintá-lo de seis.

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