domingo, 28 de agosto de 2016


“Ouviram, do Ipiranga, às¹ margens plácidas”: algumas pessoas encontravam-se às margens do rio Ipiranga, em São Paulo. Curtiam um sossego;

“de um povo heroico, o brado retumbante.”: de repente essas pessoas ouviram um alto grito, emitido por um outro grupo de pessoas. Essas pessoas eram em muito maior número do que as primeiras, além de serem heroicas. Quando se fala em uma grande quantidade de pessoas, e se põe em relevo uma ação conjunta delas, elas são chamadas de “povo”.

“E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria neste instante”: no céu da pátria surge o sol da liberdade, de raios muito brilhantes. A pátria, terra paterna, antes plácida, é chacoalhada por algo do qual se diz que será um arauto da liberdade;

“Se o penhor dessa igualdade, conseguimos conquistar com braço forte, em teu seio, ó liberdade, desafia o nosso peito à própria morte”: no seio da liberdade encontra-se o motivo para cantar e lutar. O guerreiro, em seu ímpeto, desafia até mesmo a morte. A essa morte, contudo, o guerreiro só se entrega se, com isso, conseguir garantir a igualdade. Luta-se pela liberdade pois, assim, garantirá a igualdade. A liberdade aparece como um meio e um incentivo para se atingir a igualdade;

“Ó pátria amada, idolatrada, salve! Salve! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido, de amor e de esperança à terra desce…”: a luta pela liberdade é, enfim, em prol da pátria amada. As calmas margens do rio e a doce terra, no entanto, ainda não são o Brasil. O Brasil é um sonho, uma terra de liberdade e igualdade, e isso começa a se realizar quando os raios da liberdade cruzam o céu e atingem o peito das pessoas, causando o seu furor;
“se em teu formoso céu, risonho e límpido, a imagem do Cruzeiro resplandece.”: assim como chega às pessoas a imagem do Cruzeiro do Sul, o sonho intenso Brasil também as atinge;

“Gigante pela própria natureza. És belo, és forte, impávido colosso, e o teu futuro espelha essa grandeza.”: a terra pátria ainda é um gigante adormecido. É bela, mas será ainda mais bela, e também forte, quando reconhecer-se um colosso que se move na direção apontada pelos raios. O espelho da terra pátria não está no presente, mas no futuro;

“Entre outras mil, és tu Brasil, ó pátria amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada Brasil.”: nesse canto de otimismo já se identifica a pátria amada ao sonho Brasil. O povo não há de falhar, até mesmo porque, apesar dos raios que atravessam o céu e o peito dos homens, a terra continua sendo mansa e gentil. Assim também é a natureza dos seus filhos, embora neste momento eles estejam enfurecidos;
“Deitado eternamente em berço esplêndido. Ao som do mar e à luz do céu profundo”: o mar embala nosso sono, que é imortal, como todo sono. Nosso olhar perde-se na profundeza do céu, até que nossos olhos se fechem;

“Fulguras, ó Brasil, florão da América. Iluminado ao sol do novo mundo”: o Brasil-terra-pátria possui brilho próprio. Mas os raios que riscaram o céu, e fizeram das pessoas um povo heroico, vieram da terra da liberdade e da igualdade;

“Do que a terra mais garrida, teus risonhos, lindos campos, têm mais flores. Nossos bosques têm mais vida, nossa vida em teu seio mais amores.”: a bela terra propicia muitos amores a quem nela vive;

“Ó pátria amada, idolatrada, salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo, o lábaro que ostentas estrelado.”: há de se viver um amor eterno. A terra-pátria propicia muitos amores, mas acima de tudo ama-se a própria pátria amada;

“E diga o verde-louro dessa flâmula, paz no futuro e glória no passado.”: a bandeira que simboliza o amor eterno também simboliza a paz. Mas não a paz que se vive no presente, do sono e dos amores, mas aquela que se conquista. Essa conquista deverá ser aquela em prol da liberdade e da igualdade. Os que um dia virem a bandeira do Brasil lembrar-se-ão dos feitos gloriosos dessas pessoas;

“Mas se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu não foge à luta.”: para fazer justiça, o juiz bate o martelo. Quando a clava se levantar, e ameaçar baixar, o filho da terra-pátria não se negará a participar da justiça;

“nem teme, quem te adora, a própria morte”: a terra-pátria jamais pede o sacrifício do seu filho. Mas ele adora tanto os ideais do Brasil, o que eles farão à terra adorada, que, em sua defesa, não preocupa-se consigo próprio;

“Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil. Ó pátria-amada! Dos filhos deste solo és mãe gentil, pátria amada Brasil.”

As crianças cantam esse hino ao menos uma vez por semana, na entrada da escola. É a primeira vez na vida que escutam as palavras povo, liberdade, pátria, igualdade, seio, morte, idolatrada, salve, esperança, etc. É a primeira vez que elas escutam a maioria das palavras do hino, mas as que eu acabei de destacar são aquelas que elas conseguem articular melhor, na fala.

O instrumental do hino tem momentos fortes intercalados com amenos. Crianças e adultos cantam-no sentindo que estão exaltando um tipo de amor muito importante, como o que sentem pela mãe. É um amor que conforta, mas que é exigente. O filho sentirá alegria, mas deverá lutar em prol de certos valores. A terra é aprazível e amorosa, mas cada indivíduo deverá se engajar na conquista de um bem essencial para garantir o futuro da própria terra-mãe.

1- No texto do hino que consta no site do Planalto (http://www2.planalto.gov.br/acervo/simbolos-nacionais/hinos/hino-nacional-brasileiro-1) , este “a” não possui crase. Entendo que esta seja a versão original. Contudo, escrito desta forma, o trecho indica que as “margens plácidas” é que “ouviram o brado retumbante do povo heroico.” Na minha análise sugiro um sujeito indeterminado a ouvir esse brado, o mesmo sujeito que, mais à frente, fica “deitado eternamente em berço esplêndido.” E em relação a este sujeito eu contraponho aquele produzido pelos raios do sol da liberdade, que é um lutador pelos valores do Brasil. Portanto, inseri o acento grave naquele “a” a fim de fazê-lo indicar o sentido que eu desejei que indicasse. Mas, relembro, não são a grafia e o sentido originais.

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