sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Um homem pra chamar de seu


Quem não teve um homem mais velho para explicar as razões das coisas. Quem não foi amado, enquanto o próprio peito não tinha pelos.

Ser um amado, destinatário de louvores, ou seja, educação quanto a tudo e aos prazeres. A esse a filosofia, quando ainda não adentrada, parece difícil. O quanto é difícil ser amado. Mas necessário.

Você traz, do senso comum, algumas ideias que um dia já foram de Platão. E de Sócrates. Ideias, por exemplo, sobre a alma e os deuses. Ocorre de você jamais ter gostado de uma ou de outra.

Então você ouve esse senhor. Ele é rico, homossexual e velho. Portanto, ele atrai jovens. E o que faz é falar para eles sobre seu próprio mestre, aquela figura estranha e ainda não de todo decifrada.

Platão fala e vai te envolvendo. Isso significa que vai te oferecendo um mundo, uma ordem para as coisas. Nas primeiras vezes você se recusa a entregar-lhe todas as suas noções. Está preocupado no que pode acontecer caso venha a dormir em seu sofá. Ou então você dorme, pois não há nada a perder.

Sim, sempre há o que se perder. Mas Platão, um generoso doador de mundos, não tira nada de ninguém. Ele não tira nada. Mas nos deixa em falta.

Falo como quem deseja. Não exatamente Platão. Ele não é o objeto do meu desejo. Por isso, não se preocupe em entregar-se a ele, entregar-se a um objeto. O desejo é uma falta, um ansiar.

Ao se escutar Platão se deseja. Deseja-se escutar mais, falar para outros, escrever, etc. Refiro-me, aqui, aos clássicos em geral, livros que tiram cada um da posição de nada querer, e tudo saber, para a de falta e a de querer.

Como diz Erasmo, sou uma criança e não entendo nada.

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