sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

A família brasileira


A percepção de alguém com relação ao presidente de seu país é a de um pai, que planeja, trabalha e provê. Isto dá ao pai o direito de andar de helicóptero ou jatinho, de viajar para lugares lindos e ficar em ótimos hotéis, com sua família. O filho vê que o pai, mesmo gozando, lembra dele: se acompanha o pai na viagem, ganhará um brinquedo ou, se não o acompanhou, como é o caso do cidadão em relação ao seu presidente, sabe que ganhará um souvenir. "A imagem do país no exterior ganhará, e ela resultará em mais acordos e negócios com outros países."

O governador de um estado também pode viajar para outro país ou estado, embora com um grau de luxo menor que o do presidente. O prefeito também pode fazê-lo, mas com menos luxo do que o governador, embora bem mais do que o cidadão possa desfrutar. O luxo a que cada um faz jus diz respeito ao tamanho da casa que ele administra.

Quando uma família viaja, ao pai é concebido o direito de boiar silenciosamente na piscina de um resort. Esse resort fica em um estado onde ele e sua família não moram, embora seja próximo. A esposa não deixa as crianças atrapalharem o seu relax. A família do prefeito faz as mesmas coisas, mas em um estado mais distante de casa. O governador, então, respeitando a proporção da relação dimensão do trabalho/dimensão do gozo, leva sua família para Noronha, Amazônia ou Paris. Ficam uma semana.

Noronha, Amazônia e Paris são de constante visita do presidente. Não tem graça passar as férias lá. Quando sua família quer descansar, pode até ir para esses lugares, mas neles permanece por um período tão longo, e faz coisas tão variadas, que sua estadia deixa de ser notícia. Torna-se público o restaurante em que comeu no primeiro dia, e os primeiros passeios, mas logo perde-se seu rastro. "O presidente está em suas merecidas férias de janeiro. Quando retornar, tratará deste assunto com a costumeira seriedade e eficiência."

Atualmente, em nosso país, muitos manifestam desdém em relação à presidente: consideram-na uma péssima líder e administradora econômica e, alguns, vão além e acusam-na de crimes. À imagem comum de um presidente não se mistura suspeitas de corrupção. Contanto que ele mostre um ótimo serviço, ninguém fica conjecturando se ele é desonesto.

Cada homem sabe o que precisa fazer, na rua, para ganhar a vida. Já uma presidente mulher não sai de casa para trabalhar, sua função é estabelecer e fazer funcionar os papéis, evitar desperdícios e desvios de recursos. Entre nós, a queixa tem sido que a presidente é incapaz de ordenar a casa, tendo perdido o controle da roubalheira, e também incapaz de apaziguar os filhos, que choram pelos problemas econômicos.

Quando os filhos estão insatisfeitos, esboçam um choro e procuram a mãe na sala. Deitam em seu colo, para garantir um pouco de mimo, e também que ela fique bem. Vão ao pai e comentam o que sentem, e também sobre a mãe. Sabem que o pai conversa com ela, e as coisas garantidamente voltam a ficar bem. Em nosso caso, desistiu-se de considerar a mãe como minimamente capaz de o que se espera dela, ou ao menos uma palavra bem colocada, de consolo.

O choro não atendido transformou-se em raiva da mãe. Virou-se as costas para a casa em Brasília, e exige-se a troca da mãe. Essa é a condição para que o filho volte para casa. Do pai, Temer, por ter se casado com a mãe por arranjo, não é cobrado amor ou fidelidade por ela. Não havendo esse compromisso, não há o que justifique a manutenção do casamento, se o arranjo não tem mais jeito de funcionar. Pede-se, então, que ele assuma a casa, e expulse a mãe, podendo chamar o amigo Cunha para ajudar. Temer e Cunha serão os dos pais da nação.

Thiago Ricardo, psicanalista.

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