sábado, 16 de janeiro de 2016

O perigosíssimo sexo


Duas crianças se beijam atrás da porta, em uma escola. Ao primeiro sinal, os pais se descabelam. Um homem namora uma mulher de 16 anos. Os pais dela chiam. Dois rapazes passam de mãos dadas na rua. Param, abraçam-se e beijam. Quem olha sente algo que depois, evocará como nojo e ódio. Beijos, abraços, sexo: o que há demais nisso, que justificaria tanto alarde?

Bolsonaro publicou um vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=l6muDArKIXI) em que comenta a respeito de um livro em que aparecem desenhos de figuras humanas, de ambos os sexos, nuas. Em uma das imagens, há a representação da penetração do pênis na vagina. O deputado afirma que o governo federal planejava incluir esse livro no material de educação sexual para crianças de seis anos de idade (em um vídeo resposta, publicado pela revista Nova Escola - https://www.youtube.com/watch?v=rpUnNyE8ztU - , há a informação de que o público a que a editora dirige a obra é de jovens a partir de 11 anos). Ele inicia o vídeo mostrando sua filha, de cinco anos, afirmando que aquela menina nunca entrará em contato com aquele tipo de material. Segundo afirma, crianças que virem aquele livro serão precocemente sexualizadas, além de ficarem mais acessíveis (sic) para pedófilos.

Pedófilos são pessoas com desenvolvimento psicológico comparável ao de uma criança. É uma condição patológica. O abuso sexual infantil, por sua vez, é majoritariamente praticado por adultos sãos e próximos da família da criança. O abuso sexual é o crime, não a pedofilia. O adulto que abusa de uma criança é o mesmo que abusa de outro ser mais fraco, pois se interessa por quebrar o poder de um pai, uma mãe ou uma criança, se sobrepujando a eles. Mais do que satisfação sexual, ele quer o poder de dominar os outros.

No livro "Rio de Janeiro: histórias de vida e morte", Luiz Eduardo Soares relata uma cerimônia de casamento, ocorrida em uma igreja e por ele presenciada, entre dois jovens pertencentes àquela congregação evangélica. O pastor era o pai da noiva. Em seu discurso, ele constrói a imagem de castidade da filha de 25 anos:

"-Eles nunca se tocaram, nunca viram o corpo nu, um do outro. Essa moça tão bela não sabe o que é o sexo. Vai se casar sem saber o que são as provações da carne. Sequer imagina a sujeira do sexo, a depravação. Abominou o pecado antes de conhecê-lo. Eu sou testemunha. Como pai e pastor, como oficiante desse casamento, declaro, diante de Deus e de todos vocês, meus queridos irmãos, minhas queridas irmãs, que ela, ao longo dos seus 25 anos de vida, não olhou seu próprio corpo no banho. Se isso aconteceu, foi por descuido, sem intenção, um relance inocente. garanto a vocês que, se esse acidente ocorreu, ela terá sentido um profundo mal-estar. Essa moça faz jus ao branco de seu vestido. Nunca teve a consciência do mal, da vulgaridade, da torpeza humana, nem se deixou queimar pelo fogo do sexo que desgraça o mundo. Quando a Bíblia, no Apocalipse, profetiza que o fogo consumirá a terra, é do sexo que está falando. O sexo é a fonte de todo o mal. A noiva, minha filha, eu tenho orgulho de trazê-la virgem ao sagrado matrimônio, com a certeza de que jamais o diabo libidinoso lambeu sua alma com a ponta da língua em brasa. Estive a seu lado, sempre alerta. Nunca Satanás torturou o espírito dessa menina com as labaredas de seu tridente e os chifres ardentes do anticristo. Não deixei. Fui seu escudo e hoje, glória a Deus, Jesus seja louvado, hoje a entrego a seu noivo sem pecado." (p.227)

O pai fala a todos o quanto esteve próximo da filha, supondo os desejos do diabo e as tentações dela. Essa é uma forma de falar dos desejo dele em relação à filha. Posteriormente, esse homem viria a ser preso, condenado por estupro de uma mulher. Mas não acho que ele tenha abusado de sua filha. Porém, sua fantasia com relação a ela é patente, e está fora de sua consciência, pois a sedução foi atribuída ao diabo, e retirada dele. Diante do público ele mostra o domínio sobre a filha e o seu risco de pecar. É o senhor da sua castidade, como poderia ter sido o do seu prazer. Coroa-se como protetor da filha contra as forças do mal, mas não disfarça bem o quanto esse mal aproximou-se dele (mais dele do que dela).

Na narrativa de Totem e Tabu, de Freud, o líder da tribo possuía todas as mulheres para si. Seus muitos filhos, individualmente mais fracos do que eles, unem-se e matam-no. Um totem é erguido, simbolizando a manutenção da lei paterna que vedava o acesso deles às mulheres da comunidade. Quebrar a lei seria cometer o pecado, atentar contra o pai divinizado. O acesso àquelas mulheres foi e continuava sendo exclusivo do pai.

O líder que tiraniza sua família com o seu desejo e sua violência irrefreadas é um espirito presente nos homens, por mais civilizados que esses homens sejam. Como o pai legislador foi divinizado, o pai concreto nunca o alcança, e a ele também se submete. Mesmo sendo eventualmente um líder, todo homem é sujeito a uma força superior. Mas o homem também é sujeito a impulsos sexuais e agressivos, que se realizariam plenamente se ele chutasse a civilização, matasse os filhos, que competem com ele pelo amor da mãe, e a mantivesse só pra ele, junto com as filhas. Para o homem comum, isso é insuportável de pensar. O pastor traz esses desejos à tona, e, como eu disse, retira de si e atribui ao diabo o papel do excitador/excitado, e se põe como um perfeito guardião da lei divina, um pai sobre-humano.

Em uma conversa sobre crimes e punições, um homem mais inclinado à vontade de punir pergunta para o outro: "e se um homem estuprasse a sua filha? Você seria contra a pena de morte?" É fácil admitirmos e expressarmos o ciúmes que sentimos de uma filha, quando ela arruma um namorado. E é fácil porque sabemos que não somos o namorado delas, e que nossa interferência, em um namoro que corre sem violência, não pode ir além das sugestões de cuidado. É como se, ao ter cuidado, ao seguir regras, ela estivesse com o pai sempre presente (o pai divino, e também o concreto, pois o concreto se vê como "tudo, absoluto", para a filha).

Quando um homem coloca o estupro de uma filha como algo que venceria qualquer disposição contrária à pena de morte, está indicando que, para ele, este é o maior crime de todos: um homem violou a sua filha, não dando chance para ela controlá-lo, aplicar a lei. Agiu como um pai descontrolado, roubando todo o sentido de ele próprio ter se conduzido como um pai controlado.

Como o regramento do impulso sexual foi rompido, o pai violado em sua preeminência sobre sua família dá vazão ao impulso agressivo contra o violador. É por isso que a evocação do estupro de uma filha aparece na mesma boca que defende pena de morte. E soam como uma ameaça à pessoa contrária a medidas desse tipo.

Esse homem não aguenta a civilização e suas regras, a negociação social e o jogo político que vão concedendo mais liberdades aqui e acolá, e quer escancarar seus próprios impulsos sexuais e agressivos. Ou melhor: parece-me que, em um Bolsonaro, por exemplo, além do descontrole dos impulsos, haja um desequilíbrio em sua balança, pois ele apresenta um temor excessivo ao sexo, e a liberação total da agressividade.

Pais assim exorcizam qualquer fantasia na base da forte repressão contra a filha, incluindo surras. Pessoas assim vêem o mundo como fazendo sexo violador, escabroso, e querem distribuição em massa de repressão e punição.

8 comentários:

  1. Nossa... Q bosta, "pedofilia é uma doença", só um retardado pra escrever isso msm, esses monstros abusam d crianças pq querem, pedofilia nao é igual a alcolismo ou drogas viciantes, só uma pessoa sem cerebro pra dizer q pedofilos sao viciados em molestar e abusar crianças.
    Tu se iguala aos pedofilos, os defendendo

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  2. Veja no código penal se há a designação de pedofilia como crime. Agora procure, no ECA, por abuso sexual infantil. São coisas diferentes.
    Agora, dizer que o pedófilo tem uma doença é o mesmo que concordar com o que ele faz?

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