sábado, 4 de março de 2017
A leitura de Obama
Há situações em que você se sente sozinho. Sem conversa. As ideias ficam presas, e sem resposta. Respostas são o que fazem as ideias andarem.
Obama disse (https://mobile.nytimes.com/2017/01/16/books/obamas-secret-to-surviving-the-white-house-years-books.html) que precisava estar com os livros, em suas noites na residência presidencial. O dia estudando relatórios sobre os problemas dos cidadãos faziam-no se sentir sozinho, à noite.
A política está para o cidadão. Mas as histórias estão para o homem. Com elas, Obama aprendeu a ser negro, nos EUA. Aprendeu os problemas dos homens. Mais do que isto: aprendeu sobre as diferentes riquezas dos homens.
Obama leu e escreveu sobre o mais próximo de tudo, o essencial. Como Heráclito disse aos visitantes que o viram aquecendo-se à lareira: “Aqui também está cheio de deuses.”
Deixar-se ficar sentado, lendo, não é para qualquer um. As pessoas querem fazer coisas. Começam fazendo o que devem fazer. Depois fazem o que não devem. Algumas vão direto para a segunda parte. Uma inquietação.
Não conheço outra foto de presidente refletindo sentado. O que está além das Casa Branca, da presidência? As histórias dos homens, um ambiente que Obama co-habita com os outros.
A pessoa sozinha não é aquela que não conversa com os outros: é a que não conversa consigo mesma, não tem a si mesma como parceira. Então não pode ter mais ninguém.
Por ter lido mais do que relatórios, Obama foi mais do que um presidente para cidadãos: foi um homem para homens. Assim, ele pôde ser um grande presidente.
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