sábado, 4 de março de 2017

"Não sou machista". E daí?


Fernanda Lima está linda na capa de uma revista, dizendo que cria seu filho para não ser machista. Cria o filho para isso. Porei no meu currículo que eu sou feminista. Ou que votarei no Bolsonaro. Nas últimas eleições para vereador, vi um santinho com uma primeira frase “Sou lésbica e feminista”.

Isso não começou hoje: já vi muita propaganda de político dizendo, de início, “pela moral e os bons costumes”. No meu currículo não porei que sou psicólogo, que trabalhei em escolas e que escrevo sobre psicologia e filosofia. Isso não interessa, mais. Fernando Holiday ganhou, em São Paulo, não por ser contra as políticas étnicas, mas por ser um negro contrário às políticas étnicas.

Perdeu o valor aquilo em que trabalhei, e por “trabalho”, aqui, refiro-me ao que é socialmente considerado trabalho, e assim o é por ser a produção de algo com valor para essa própria sociedade, e que passa pelo que ela considera importante para o mundo. Tem a ver com o mundo que costumávamos querer!

Hoje o valor está em ser negro, gay, ou de direita ou de esquerda, como opções pessoais com as quais se partiu da reivindicação de respeito para a busca por fazer com que a própria perspectiva fique acima de tudo, seja absoluta. Parece que o valor está naquilo que “brotou naturalmente”, da pessoa. Nesse rousseauísmo inconsciente, aquilo pelo qual se trabalhou não vale mais do que a “própria essência”. Então eu sou primeiramente conservador, implicante, depois eu vou ver contra o que vou implicar. Como sou conservador, vou reclamar de tudo!

Ser gay, negro ou de direita não deveriam ser valores mas, sim, serem aspectos do humano. E como o humano é diverso, suas características consequentemente ganham valor. Mas esse valor é secundário ao do ser humano. A causa animal, ambiental, dos gays, etc, deveria tocar a todos. Mas, se tudo que preciso ser na vida é “não machista”, estou empobrecendo o que quero para mim. Também não se trata de me dizer “não machista, não feminista, não negro, não gordo, não-BBB, etc”. Uma teologia negativa diz que não se pode definir o que é Deus, por isso dedica-se a dizer o que Deus não é.

O homem não pode se definir negativamente. Ele vai vivendo e se definindo. Vai dizendo sim para o que ele quer para o mundo e para si. Interessante era quando se podia dizer para um filho o que ele não deveria fazer, e também o que ele deveria fazer. Mas há gente achando que é opressão influenciar um filho. E a isso se junta a transmissão do medo do diabo, “não seja o coisa-ruim, meu filho!”. E as coisas boas que a tradição diz para valorizarmos? E as coisas boas que se descortinam, na vida? Onde estão?

Não se é bom por não fazer o mal, mas por fazer o bem. Preocupar-se com o mal é olhar o chão, temeroso de olhar para cima. Há que se olhar, e a ensinar a olhar, para o alto.

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