sábado, 4 de março de 2017

Cuidar

Não é respeitar: é cuidar da vida. Mulheres, crianças, gays, negros, índios, animais, todos os que sofrem atentados por serem quem são. Você não está com eles? Também não é regrar. É estar com e ali.

Uma mulher que tem um profundo desejo. Crianças empenhadas numa brincadeira. Gays se beijando demoradamente, na rua. Índios que dançam e cantam, como sempre. Animais que te olham pedindo mãos em que possam deitar o rosto, como filhotes: Você fez a mesma coisa que eles, e alguém cuidou de você, acompanhou, simplesmente extasiado. Se isto ocorreu, você acompanha aqueles seres, participando daquele momento, daquele lance de vida.

Participou numa distância ótima, próximo. Cuidando, e também em êxtase. Feliz, fazendo o outro feliz. Estático, você não desgrudou os olhos, não perdeu a atenção ao que era mais importante do que tudo.

Quem não foi cuidado, protegido, comemorado, não sabe cuidar e comemorar. Pensa em coisas como “a violência que ocorreu e o necessário revide”, “o modo errado de ter prazer, e o castigo que deve ser aplicado”, etc. Tal espírito vaga, pois evita o que está vivo.

Já o ser que teve parceiros, e sabe ser parceiro, vive uma afinação simpática entre seus próprios sentidos e aquele outro ser. Seu espírito temporariamente sai do corpo, e co-habita nessas vidas que acontecem.

P.s.: Inspirado do “Esferas I”, do Peter Sloterdijk.

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