sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O fim do herói


O super-homem ajuda as pessoas. Ele é bom, no sentido que damos a esta palavra. Aquiles derramava os intestinos de parte daqueles com quem lutava. Da outra parte, ele trespassou a cabeça com sua lança. Ele é bom num sentido antigo, o de excelente. Nietzsche foi quem apontou essa mudança no sentido do bom, o que levou o homem a deixar de ser uma ave de rapina e a passar a ser um animal de rebanho.

Aquiles era o melhor guerreiro que já existiu, fazia o que nenhum outro homem podia fazer. Os gregos estavam encurralados e morreriam todos, não fosse a entrada dele no combate. Após matar Heitor, decidindo a guerra, Aquiles pôde morrer.

Cumprir um destino era ao mesmo tempo realizar um grande feito e chegar ao fim da vida do corpo. O momento final desta vida vem pelas mãos de um inimigo que ataca sorrateiramente. O suicídio de um herói trágico parece ser apenas formal, pois a vida dele terminou no momento da revelação do trágico. O destino nunca está nas mãos humanas. E nenhum homem é páreo para o herói. Por isso que o Coringa nunca chega a matar o Batman, mesmo quando tem oportunidade.

Na série The Walking Dead, survivors são como volta e meia um personagem antigo se refere a outro personagem antigo: hordas cerradas de zumbis, inclusive em lugares fechados, e grandes vilões foram contornados por eles, durante anos. A história parece basear-se no ciclo de uma natureza hostil, com dez meses de desastres, perigos e fome e dois meses de paz. Esse ciclo sempre vai ocorrer, e os heróis, survivors, são aqueles que vão superando os anos. Para ser survivor não tem que ser bom. Tem que ser excelente.

Após um hiato de alguns meses, um novo episódio da série foi lançado. Todos os survivors estão ajoelhados e cercados pelos capangas armados de Negan. Negan carrega um taco de baseball envolto por arame farpado. Ele chama o taco de Lucille, e por ele mostra admiração. Negan chega a dizer que Lucille é um taco-vampiro, como se escutasse a necessidade dele.

Com um movimento de cima para baixo, Negan amassa a cabeça de Glenn, um survivor. Após este primeiro golpe, Negan deixa Glenn dizer algo. Com uma voz de morto, Glenn diz à sua mulher que a encontrará. Maggie está apavorada. Glenn está deformado, como os milhares de zumbis que ele mesmo venceu.

Negan sorri e dança com Lucille. Ele quer que Rick, o líder dos survivors, considere a ele o seu dono. Rick deve olhá-lo com medo, não com ódio. Com ódio, Rick enfrentou e resolveu situações dificílimas. Seu olhar para Negan o apontava como mais um da sua lista de desafios. Negan sabia disso, por isso insistia em desfazer aquele olhar. O ódio de Rick era gana voltada a livrar-se de alguém ameaçador para ele e seu grupo.

Negan disse que mataria todos os outros, caso Rick não decepasse o braço de seu filho, que fora posto deitado diante dele. Os olhos de Rick passaram a ser de susto. Ele fora reduzido à situação de não ser mais ele mesmo, a não ser mais aquele que lutou para proteger seu filho. Ele foi lançado para ser um monstro. Rick agora olhava assustado para Negan. Estava passivo, não era mais um herói.

Só os deuses deveriam poder selar o destino dos heróis. A morte de Glenn e a submissão de Rick, que fizeram deles coisas entregues, assustou os que acompanham a história. Negan não os enfrentou e quis ser um deus, aproximando-se do destino deles. O que Negan conseguiu foi fazer os heróis tornarem-se o que não são, passivos. Glenn e Rick viraram nada, diante dos nossos olhos. Aí está a monstruosidade de Negan.

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