quarta-feira, 16 de julho de 2014

Por que o beijo gay incomoda?

Marina e Clara casarão, na novela Em Família, numa cena que será linda. Eu gostaria de ver o Gianecchini, o Malvino ou outro galã fazendo um gay, e todo dia aparecendo dando uns pegas em alguém. Quero outras bonitonas, como a Antonelli, fazendo lésbicas e também beijando mooooiito! O afeto e o tesão aparecem na tela e fazem coçar quem está em casa. A sensação é gostosa, se insinua, alastra e faz pensar e desejar coisas, involuntariamente. Muita gente reage a isso com raiva. Reclama de casal gay não por "defender a moral e a família", mas pelo que sente e não queria sentir. Nossas morais baseiam-se no autocontrole sobre o que é involuntário em nós (não matar, não roubar, não insultar, não agredir...). Requerem um aperfeiçoamento dos comportamentos (modernamente, apontam para a suavização das relações e a tolerância com as diferenças), mas que reconhece que somos humanos e passíveis de descontrole. O moralismo ocorre com a aplicação taxativa das regras morais, proibindo comportamentos e censurando partes do corpo. O moralista terá ódio à novela, como tem a tudo o mais. No que vocifera contra essas coisas, exibe seu descontrole. Prefere exibir o descontrole da raiva do que do amor. "Eu nunca posso me divertir como os outros. Não posso ter o que quero, então, que os outros também abram mão"; ou "o mundo é ruim, eu sofro e todos também devem sofrer": são a psicologia do ressentido, que quer a diminuição do prazer, no mundo, e vê o controle como válido por si só e um meio de negar as coisas da vida e do corpo (é uma mortificação). Isso acontece muito entre nós, brasileiros, em que a falta de direitos e de busca por direitos civis, ou seja, pelo que a vida em sociedade poderia nos trazer de bom, cria a idéia de que se deve suportar o ruim e o desagradável, tornando-se tanto melhor pessoa quanto mais se suporta e se nega os prazeres e aspirações sociais. E se sentimos prazer e atração, pela pele e as entranhas, com as cenas gays (apesar de batermos o pé que não) é porque as não-gays já não despertam isso. Gianechinni e Clara são banais. O sexo hetero está chato, não provoca mais nada. As novelas, logicamente, pensam no impacto que as cenas gays terão na nossa atenção e audiência. Mas mexem conosco, fazem-nos ver, sentir, novamente a beleza e o tesão. Vão acessando nosso corpo e fazendo nosso espírito alegre e generoso, menos carrancudo.

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