terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Rambo, macho à toda prova


- Macho era o Rambo.

- Rambo era gay, disse minha esposa.

- Que isso! O Rambo ensinou a gente a ser macho. A cada filme ele vinha mais forte, mais bravo, matava todo mundo, explodia tudo. Ele é o macho máximo. Quando saiu o segundo filme, eu pedi: "mãe, me dá o novo boneco do Rambo?" Ela me disse: "mas você já não tem um boneco do Rambo? Para que outro?" "É que esse vem sem camisa, e com uma bazuca grandona." Chorei muito para ter o Rambo sem camisa.

No primeiro filme o Rambo usava um tipo de avental de pano cinza, todo rasgado, que ele mesmo tinha feito, na selva. Usou um cipó para prender na cintura, onde também carregava uma faca, sua única arma. Ele resolvia tudo na faca, naquele filme: matou todos os policiais que o perseguiam, inclusive os que estavam num helicóptero, que ele obviamente fez vir ao chão.

No segundo filme ele já começa sem camisa, e passa o tempo todo assim. Arranja uma bazuca comprida, e sua faca agora tem várias pontas, como uma serra. A namorada dele é séria, uma vietcongue que não fazia qualquer gracejo. Quando ela morre, é um companheiro de guerra que Rambo perde, a única pessoa com quem ele conversa alguma coisa o filme todo. Ela tinha o cabeço comprido, e ele resolve também deixar o dele crescer.

No terceiro filme, ele estava enorme de forte. Os cabelos chegavam na cintura. A falta de camisa era completada pela cintura baixa da calça, deixando ver todos os caminhos. As gotas de suor e de sangue percorriam um longo caminho antes de esconderem-se para molhar lá dentro. Na primeira cena aparece ele lutando com dois paus na mão, contra um adversário que também tinha dois paus. Trocaram pauladas até não aguentarem mais.

O abdômen do Rambo pulsava de respiração e dor, quando ele era torturado, cortado. Num balaço de raspão ele pôs pólvora, mordeu um pedaço de pau, pegou outro pau, em chamas, e tacou fogo na ferida, urrando com aquela boca torta do Stallone. Era ele contra o exército Russo. Um russão de dois metros lutou com ele numas pedras. Após uns socos para tontear, o russão deu um abraço nele, bem apertado. Rambo participou, dando cabeçadas na testa do parceiro, chegando a encostar os narizes.

Os três filmes terminam com o coronel Trautman aparecendo para defender Rambo das autoridades militares. Ele sempre demora os olhos azuis sobre os do protegido. A macheza que o Rambo ensinou tem força, coragem, honra, proteção, prazer e dor. Braços fortes, peitos grandes, líquidos densos, areia, torturas, e um par de olhos azuis paternais, reconfortantes.


3 comentários:

  1. Me lembro disso, o Rambo é o mais macho dos machos. Era tudo o que nunca fui e sabia muito bem que não seria.

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    1. Difícil alcançar isso, né, Leandro? Então torna-se o ideal de amor de uns, e o ideal de amor identificatório de outros.

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