quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Os sentidos do olhar


A escrita preenche a página do topo ao final. O início do texto traz a tese e os argumentos principais. Olhando uma página frente a frente, vendo-a como também um corpo humano, a base está na altura dos olhos, da garganta e do peito. Correspondem ao que se vê, ao que se diz e ao que se enfrenta. A elaboração dos argumentos é a caminhada.

Em uma competição, o vencedor vem no topo da lista. Como ocorre na lista de compras, o importante vem primeiro. É o que interessa, capta-se numa batida de olhos. Os piores baixam os olhos, procurando, até chegar ao fim da lista e mirar os próprios pés.

Quanto a construções e desenvolvimentos, prédios, plantas e pessoas crescem de baixo para cima. Mas a fundação de um prédio, as raízes de uma planta e as ocorrências da infância de uma pessoa são desconhecidas. Crescem como que querendo se libertar do baixo. A fundação do prédio imagina tudo o que virá acima. As raízes distribuem-se pelos lados, atrás de água. Também vão para cima, atrás do sol. E querem atrair abelhas, borboletas e passarinhos, seres que vêm por cima. O "o que eu quero ser quando crescer", da criança, diz que o ser que importa é o ser que existirá quando ela crescer.

Algo de um milímetro de altura olha para os lados e para frente, não para baixo. Olha também para o que está acima da cabeça. Com mais um milímetro crescido, permanece olhando para os lados e para a frente, em busca do que pode ser utilizado, e para cima, aspirando a algo. Nunca para baixo, que é a base sobre a qual vai se erguendo. Mas a base é o histórico dos feitos, de cada milímetro, que garantiram a sobrevivência, o crescimento e produziram experiências.

A consciência que se tem de experiências é a de uma história com algum emprego, seja no manejo das coisas do ambiente, seja no manejo de coisas de quem está tendo a consciência de experiências. Escapam à consciência o que, da experiência, está além deste emprego. Isto pode ser as sensações e os gestos, sem sentido, que se relacionam à experiência. Como a consciência é apenas do que tem emprego, portanto sentido, somos cegos para muito do que faz nossa experiência. Esse muito vai formando a base. As técnicas, os saberes que atualmente estão empregados, também fazem parte dessa base cega, pois a consciência atinge, no máximo, seus últimos desenvolvimentos (o IPhone 6 lembra melhor do 5, o adulto lembra melhor da fase pré-adulta).

Cada nível é mais elevado que os anteriores. Quer encurtar a distância para com o que vê acima. O vencedor de uma prova de atletismo acaba de se sentir no auge. Esqueceu as dificuldades do começo. Por um breve momento lembra, a quem vê, a lenda do esporte. Olha para seus fãs, e é olhado por eles.

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