segunda-feira, 15 de junho de 2015

A autoridade é má



Não mandamos em nossas crianças. Pedimos a elas. E devemos explicar sobre tudo, o tempo todo. A autoridade é má, dizer "não pode porque não pode" é ser mau.

Na academia, um professor não pode expressar uma doutrina. Não pode expressá-la não por ela ser errada, mas para não ser acusado de ferir o direito do aluno de escolher livremente (como se ele vivesse num vácuo social) a própria doutrina.

Devemos ser todos iguais em poder. A autoridade do pai é para ser igual à do filho, a do professor igual à do aluno. Assim é que pensamos. Os pais gostariam de deixar os filhos fazerem tudo, e sentem-se em débito com eles. Trabalham muito, e passam muito tempo distantes deles? Não, o débito existia antes de eles nascerem. Ao saberem que terão filhos já pensam no que precisam fazer, na responsabilidade inimaginável de ser pai, em como isto precisa transformar totalmente a vida de uma pessoa. Com sorte, verão que não podem oferecer tudo. Sem sorte, achar-se-ão merecedores de entrar para o SPC da Paternidade.

Socialmente, certa militância de minorias as apresenta como credora de uma dívida impagável, e representante de uma cultura que não pode ser criticada. A cultura é antiga, passou por disputas, muita gente foi morta, então é meio sagrada. Seus praticantes identificam sua história pessoal com a história dela, e não aceitam que "que alguem de fora" fale delas. Homem não pode falar sobre mulher. Branco não pode falar sobre racismo contra negro.

Como a criança aprenderá o não, que cria os limites de um mundo que, sem limites, é uma banheira onde se fica de boca aberta, só recebendo comida, sem buscar outras coisas? Como as culturas e ideias refletirão sobre si mesmas, e poderão melhorar, se não ouvirem o contraponto e receberem uma análise mais objetiva?

Não se deve mandar, e não se deve expor saber, com o aluno sentado e escutando, para não oprimí-los. Em resposta a este excesso de cuidados, vemos professores indo para o extremo de defender amalucadamente (sem crítica) a própria doutrina, e pais espancando crianças. Quando se evita a própria força, não se a conhece. Aí ou a pessoa se anula em tudo o que poderia ensinar, ou se descontrola.

Onde ainda existe professores e alunos? Em grupos de estudos dentro de universidades públicas, com professores e alunos mais selecionados, e que funcionam com alguma independência em relação à própria universidade. Talvez o sistema de ensino precise ser reformado, baseando-se na força motriz dessas experiências.

A pessoalidade no ensino acadêmico parece ser garantida pelo liberalismo, mas não o é: ela impede que se seja professor e aluno, necessariamente desiguais no saber, e a análise dos saberes e dos fatos. A pessoalidade é inimiga do próprio liberalismo. Já podíamos observar isto na nossa relação com as leis. Agora as vemos em casa e na escola. A criança e o jovem têm o direito ao contorno de mundo que só o limite do não pode e do não sabe dão. Sem eles, pode-se tudo, até se destruir e ficar burro.

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