segunda-feira, 15 de junho de 2015

A vida de Adaline


Para o filme "A incrível história de Adaline", em cartaz nos cinemas, prefiro o título original , "Age of Adaline". Harrison Ford, quando jovem, viu o céu ser cruzado por um novo cometa. Desde então, ele passou a sua vida olhando para a estrela, à espera do reaparecimento do cometa.

A jovem Adaline sofreu um grave acidente. A conjunção de um lago gelado e da descarga elétrica de um raio fez com que ela passasse a viver sem envelhecer um segundo a mais. Adaline viu sua filha crescer e envelhecer, enquanto ela permanecia com a mesma aparência de jovem. Não aparentava ter armazenado todo o conhecimento que acumulou por décadas, e que empregava no trato com as pessoas.

Um jovem por ela se interessou, mas ela evitou envolvimento. A cada década, Adaline mudava de endereço e de identidade. Agentes do FBI queriam capturá-la para estudos. Algum tempo depois, os perseguidores não mais existiam. Ela continuava sem se fixar a nenhum lugar.

Ela também sentiu afeição por este jovem. Lembrou, contudo, das vezes em que esteve apaixonada, e apaixonou alguém, e abandonou tudo. Ela vivia o começo das relações, mas as estancava. Era eternamente jovem. Em um encontro com sua filha, já idosa, recebeu aconselhos de não mais fugir das pessoas.

Nossa vida é uma sucessão de presentes, com um passado e uma hipótese sobre o futuro. Quando envelhecemos, temos mais passado e um tantinho de expectativa do futuro. A filha de Adaline lhe disse que, se tivesse a juventude da mãe, correria para se apaixonar agora. Era velha, contudo, e não se via com forças. Adaline tinha um longo passado, mas cortava os seus futuros. Acaso faria mal a alguém, se com ele se juntasse e o visse envelhecer, sem que ela o seguisse na idade? Sofreria muito se, de época em época, visse os seus queridos morrerem e deixarem-na ali? Drácula também não envelhecia, mas isso não lhe trazia os dramas de Adaline. Ela era boa, mas, ao se afastar de quem tocava o seu coração, e era por ela tocado, fazia mal para ele e para ela mesma.

O jovem vê a morte como distante. Talvez, também, porque se veja com um curto passado. Suas emoções são fortes, têm o gosto da eternidade. Quando cresce, acumula experiência. Ainda sente o amor, sente o eterno. Mas também compara esse amor a amores do passado. Aquele amor, ao mesmo tempo em que é tudo para ele, não é tudo para ele. É eterno, mas pode acabar.

O receio de Adaline em se envolver era uma marca de uma perseguição que uma vez sofreu, que se rebatia nos presentes dela, dizendo que aquilo deveria ser cortado. Cada paixão nossa é inesquecível. Adaline as interrompia no auge, sem viver a relação que se seguiria. Ela não conhecia o futuro que poderia ter com alguém. Não conhecia o desenrolar das histórias que poderia ter vivido (muito viveu, mas nada a tocou, foi vivido por ela). Por não terem sido transformadas em um relacionamento, suas paixões, mesmo estando no passado, permaneciam fortes, fogo não extinto.

Adeline era um cometa que encantava, entusiasmava e seguia seu rumo independente e indiferente. Eis que, um dia, resolveu parar de correr, e viver a paixão que também sentia. Neste momento, o relógio voltou a correr. Ela ganhou um cabelo branco.

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