segunda-feira, 15 de junho de 2015

O meu Dia das Mulheres

(A propósito do último Dia das Mulheres)

O Dia das Mulheres é para lembrar, como diz Zélia Duncan (https://www.facebook.com/ZDoficial/posts/869523626422313). Lembro do rosto da minha mãe. Lembro mais ainda da sua estatura: ela era baixinha. E brigona. Não permitia que ninguém a pusesse em desvantagem. Também não deixava, advogada que era, que ninguém pusesse outra pessoa em desvantagem. Dava “a cada um o que lhe era devido”. Eu a procurava mil vezes por hora, para qualquer coisa. Ela respondia o quanto podia, e não mais. Eu sempre pude saber qual era o limite. O limite não era curto e, por ser existente, não era infinito. Infinita foi sua energia para dizer que não podia. Sua estatura era de um enorme paredão na minha frente. Um paredão que nunca deixei de ver como uma cama macia.

Demorei para entender que ela não me dava pouco. Cresci me bastando naquilo, sendo uma pessoa que se ajustava àquele quantum de reciprocidade. No dia em que eu tivesse a minha mulher, ela me seria mais recíproca, mas também não poderia ser infinita. Um dia diferente do outro significa que em um se tem mais desejo, no outro, um atendimento, que me fez esperar a hora certa. Minha mãe tinha muitas emoções guardadas, e não as deixava virem para mim. Ela era do jeito que eu precisava. Eu era solicitante, ou seja, do jeito que ela precisava. Ela precisou de mim para dizer os nãos que não pôde dizer de outras formas. Assim, conseguiu vislumbrar os próprios sins. Ela namorou, viajou, jogou, bebeu, sorriu muito. Aos poucos eu passei a ser admirador, e não mais querer ser participante. O sorriso dela, fosse para quem fosse, estava bom para mim.

Mulher é aquela que sorri, passando por situações que às vezes são ruins. Ela as recebe, porque pensa poder melhorar o ruim, usando a beleza e a delicadeza. Minha mãe era inteligente, e conseguiu ajudar a si mesma a viver, mesmo tendo um coração partido. O homem é bruto. Às vezes bom, às vezes mau, mas essencialmente indelicado. Ele sempre tem muito o que melhorar, frente a qualquer papel, seja de marido, irmão, pai, filho. E está à espera de uma mulher que o receba. Tendo pouca experiência, sente como se fosse plenamente aceito. Não leva a sério as queixas. Quando ama, quer fazer o melhor que está na sua cabeça. Tendo alguma experiência, sabe que seu erros não foram só na relação com a mãe, e que também foi capaz de errar no “mundo lá fora”. Quando ele ama, já ouve mais as queixas, e ajusta à mulher a sua idéia do que é melhor para ele mesmo.

A vida me presenteou com uma mulher e uma filha. Não preciso dizer o quanto são maravilhosas, apenas que são minha mulher e minha filha: aceitam e dão reciprocidade para o meu jeito, que existe para amá-las, ser amado por elas e por elas criticado. Conversamos e nos entendemos; conversamos e não nos entendemos; trocamos carinho; fazemos e desfazemos planos; paramos ou damos passos. Temos cada um o jeito certo para o outro. Vou com tudo, e elas me fazem puxar o freio de mão. Até que me sorriem, mostrando o quão inesperada é a hora em que se faz a coisa certa.

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