segunda-feira, 15 de junho de 2015

Mulher bonita mora na rua



Uma mulher se veste para si mesma, mas seu espelho são os olhos dos outros. Seu homem tem olhos que lhe importam muito. Os olhos da rua também. O conjunto roupa+maquiagem+cabelo foram feitos para desfilar por lugares elegantes. E para as calçadas da cidade.

Em lugares elegantes, a mulher bonita recebe gentilezas, gestos suaves que visam ajudá-la em alguma coisa. Recebe sorrisos e interesses em conversar sobre qualquer assunto. Nenhum assunto é aprofundado, exceto aquele ao qual o lugar especificamente se destina. Por exemplo: em uma reunião sobre a venda de uma empresa de pescados, cabe extensa conversa sobre o seu andamento comercial, e sobre pescados. Uma mulher bonita, contudo, pode falar que odeia peixe, e ser ela mesma o assunto. Mas este será tratado pelos sentidos que recebem sua aparência, a conversa será entre órgão estimulado e órgão que estimula: o nariz cheira o seu perfume, os olhos se encantam pelo brilho dos seus olhos, a pele sente os movimentos quentes da sua, e a língua não se ocupa em falar, só em salivar e ansiar pelo seu gosto. A morada da mulher bonita é na sensorialidade do homem ou da mulher que a encontram.

Em lugares degradados ou públicos também se sente isto tudo, mas a língua do outro solta uma cantada. Há cantadas que visam transportar a mulher para uma situação de dominação, como se se dividisse com ela uma intimidade. Estas dizem do homem que quer antes tirar o poder da mulher do que enaltecê-la. E há cantadas que elogiam, dizem do homem que foi afetado e ficou sem ar, fraco, na presença da mulher.

Em casa, pode ocorrer violência, e isto é inaceitável. Mas também há momentos específicos em que se retira o poder da mulher, e ela quer isto. Estes momentos são os mesmos em que também ocorre, em outras vezes, o estrebuchar do homem, de tanto que ele sentiu.

Quando se leva o desejo de dominar para a rua, a cantada sai grosseira. Aquilo que era parte de uma intimidade, fica exposto, peixe que secou quando levado fora d'água. Quando se leva um tanto de enfraquecimento do homem para a passarela-rua por onde passa a mulher, e ele se derrete em galanteios, a patricinha diz não gostar, que foi "fora do contexto". Já a periguete mostra que o canteiro de obras é onde sua beleza está em casa. A patricinha ou a feminista, de tanto reclamar, acha a si mesma chata , e sente saudades dos olhos sequiosos da rua.

P.s.: A mulher mais bonita que existe, a minha, inspirou-me neste texto. Enquanto escrevi, pensei na sensação que causam os seus passos e o seu ar, dentro de casa, em mim, e nas passarelas que se abrem para ela, na rua. É impossível que, quem a sinta, não se apaixone. E não consigo segurar a minha alma, que voa e vai com ela em todas as vezes que ela me diz "até logo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário