segunda-feira, 15 de junho de 2015

Conhecimento e vida (Gênesis, 1)

Um camponês hebreu antigo poderia ter as seguintes circunstâncias e questões à frente de si: eu espero o momento certo para plantar, preparo a terra, semeio, observo as chuvas, vejo o surgimento dos primeiros brotos, depois os caules. Então as chuvas não ocorrem como eu previ. Ou ocorre uma geada, e eu perco todo o meu trabalho.
Outra situação foi da dificuldade que tivemos para a minha mulher engravidar: tentamos de tudo, mas nunca havia acontecido. Eis que a barriga dela começa a crescer e, segundo a sabedoria do meu povo, o formato da barriga, e o tipo de sensações que minha mulher experimenta, indicam que será um menino. Nasce o menino, mas, por obra do destino, ele adoece e nos deixa. Ou a minha mulher é que adoece e falece, ou eu mesmo.
Todo o saber que tem o homem não garante o seu domínio sobre a natureza e seus acontecimentos, e sobre a própria vida e seu destino.
Deus semeou a terra do Jardin do Eden de plantas que produzissem suas próprias sementes. Criou o homem, também com capacidade de se auto-gerar. O homem cuidaria das plantas e animais sem grande esforço, pois eles reproduziriam a si mesmos e comeriam os abundantes frutos da terra.
No centro do Jardim estava a árvore do conhecimento, e o conhecimento era do que era bom e do que era mau. O homem comeu o fruto desta árvore, vedado por Deus. Porque ele iria querer saber do bom e do mau? Ele podia apenas esticar o braço e comer algo que lhe faria bem. Não precisava selecionar. Não precisava olhar o que comeria, por onde andava e dormia. Estava seguro e confortável, como um cego que tem pleno domínio de onde está. Esta sensação de confiança é especial, e seu rosto não se contrai por nada.
Logo após a maçã, os olhos do homem se abrem. No que era bom, ele já estava mergulhado. A primeira coisa em que reparou foi no mal. Mas, que ironia, o mal estava nele mesmo, e não no ambiente. Ele toma consciência da própria nudez. O ser que vivia em plenitude cai na fragilidade. O homem se esconde da mulher, e também de Deus. Assim, ele mesmo se acusa, acusa o mal em si, e se mostra indigno para estar no Éden.
Deus diz ao homem que seu destino é lutar com a terra para tirar o alimento. E é morrer, após um tempo. A natureza não lhe seria generosa como era a casa do seu pai. Ele podia ter o dom do conhecimento das coisas, mas o uso deste dom, e a sua própria vida, chegariam a um termo na morte.
No centro do Jardim havia uma segunda árvore, também proibida para o homem. Esta proibição fora feita após a expulsão dele. A segunda árvore era a árvore da vida, aquela que daria vida eterna ao homem. O homem conhece as coisas da terra, mas permanece bem distante de Deus, ou seja, do controle do curso da vida. Diante dela, ele sempre será um animal nu e envergonhado, como o homem que vai, nu, pegar o jornal na própria porta, e ela fecha atrás dele. Sua vida é estar sem recursos em um ambiente hostil.

Nenhum comentário:

Postar um comentário