segunda-feira, 15 de junho de 2015

Quem não quer ser um milionário?

Um juiz confiscou os bens de um dos homens mais ricos do mundo, e que é brasileiro. Ser rico nos parece ser o único modo de se ter o que quer, em um país em que todos estão abandonados pelos direitos. Sendo rico, não se precisaria pedir mais nada. Aos poucos até a classe média começa a pedir direitos sociais! O rico não pede, então pensa não dever nada a ninguém. Esse é o nosso conjunto de crenças.

Eike, enfim, está sofrendo restrições, por responder a processo. O juiz mostrou que rico não faz o que bem entende. A lei é sempre mais severa com os mais pobres. Cometemos crimes em busca de poder, mas jamais queremos encontrar um juiz pela frente. Ele tem a chave da fechadura da nossa liberdade, essa é a sua metafísica. Eike é os bens dele. Prendê-los é como prender o próprio Eike. Assumimos que uma justiça, enfim, havia sido feita. Não justiça contra Eike, mas contra os ricos que tudo podem. “Talvez as coisas se acertem, e valha a pena ir pela lei.”, começaremos a pensar.

Um olho bateu nas contas das empresas de Eike e construiu as denúncias de crime. Um olho bateu foto do juiz querendo ser Eike. O equilibrador não é, vejam só, equilibrado. Ele está no nosso costume de pegar o que o outro deixa cair. É como se o cara pego dirigindo o carro não fosse o mesmo que confiscou o bem, pois o segundo mostrou firmeza em seu trabalho de cumprir a lei, e o primeiro se aproveitou do acesso ao Porsche.

Se víssemos a alma humana como tripartida, por sugestão de Platão, o homem dos apetites estaria com os apetites descontrolados, buscando satisfação o tempo todo, como se esta lhe houvesse sido há muito negada. Esse homem, que deveria aprender a ser um bom comerciante ou produtor, ou seja, a lidar sabiamente com provisões e economia, foi parar no âmbito da aplicação da lei na cidade, âmbito este que deveria ficar a cargo dos que têm a parte intelectual da alma mais proeminente.

Um vendedor que se empanturra com os próprios produtos está na cadeira de um juiz. O juiz confiscou bens e os olhou com gula. Tomou posse do carro, ou seja, do próprio Eike. Todos queriam ser um juiz, e punir Eike. Mas jamais perderiam a chance de ser Eike, e dar uma volta no carrão. Hoje eu ouvi de um taxista que o erro do juiz foi ter sido pego dirigindo o carro, sendo tão desgovernado a ponto de confundir Eike com o carro dele, esquecendo o indivíduo a ser punido e se empanturrando de carro-Eike.

Se Eike era o carro, e agora o carro foi para um lado, e Eike para outro, para alguém se tornar o milionário basta entrar no carro, vestir sua roupa. Este carro vale bem mais do que um Porsche.

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