segunda-feira, 15 de junho de 2015

A autorização da violência



Ficou mais caro comprar as coisas. Aquele projeto não fechou por pouco. Cobrei abaixo do mínimo, mas ainda assim os clientes estão chorando. Ninguém entende estes problemas, mas os experimenta. Bate panela para mostrar o mal-estar, sem tentar entender. O governo bate em você, então você deve bater de volta. Como não entende, não tem outra forma de agir.

Mais um parecido comigo foi esfaqueado. Pode ser eu, morto no chão. Se eu pudesse, levantava e esfaqueava de volta. Um cidadão não tem mais o direito de aliviar o stress do trabalho, dando uma bicicletada. Peço que o governo esfaqueie por mim. Chamo de "redução da maioridade penal" o que eu não sei muito bem como funciona e os possíveis efeitos. Mas quero que seja feito logo. Como não conheço, não me comprometo, e faço passeata para mostrar que sou da paz. Estou louco para também esfaquear, mas ei, Estado, eu só quero andar por aí. Eu não sei quem você é, Estado, por isso não precisarei olhar nos seus olhos de assassino, e me ver refletido. Para todos os efeitos, eu sou da paz.

Ah, a Dilma está aí, a grande culpada! Eu te xingo de tudo, mesmo, e quero que você suma. Não sou da paz, não. Acabou o tempo de eleger e esquecer do presidente. Você deu dinheiro para o pobre, então você existe, o Estado ganhou uma cara. Você é a minha inimiga, Dilma, e todos estão comigo nessa. A população contra o Estado-com-face. Ninguém vai achar ruim se eu esquecer que sou da paz e até sugerir violência contra você. Eu mesmo não vou fazer, mando o exército.

O indivíduo quer um salvo-conduto para ser violento em público. Quando se vê perto de uma cena de esfaqueamento, colhe incentivos para poder se vingar. Ele até gostaria de chegar perto da cena, para fazer esta colheita. Quem sabe os incentivos ficam tão grandes que, ops, matei um bandido, mas foi por pressão externa! Entre os pressionadores e o esfaqueado, que sempre foi esfaqueador, os olhares são de cumplicidade.

Contra a presidente, alguns sugerem, sem pudor, a violência. Sentem-se autorizados, pela população, para cometê-la. Ninguém, contudo, quer ser o bobo da turma, que realiza o desejo destrutivo que todos têm, mas os faz saírem como culpados. Quem seria louco de tacar bolinha na professora chata? Então vamos amassar panela, que assim a gente não fica de castigo na sala, depois da aula.

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