segunda-feira, 2 de junho de 2014

"All work and no play makes me a dull boy".

O caixa do supermercado dizia que torcerá para o Brasil... perder todos os jogos. O cara da minha frente pagou suas compras e agradeceu. Ouviu que o patrão é que agradecia, pois garantia seu foie gras em Paris. Era domingo, e chovia. Mickey Rourke, em O lutador (Aronofsky, 2008) fatia e entrega frios embalados a clientes de um supermercado. O supermercado te diz que a vida é trabalhar, pagar, comer, cagar, e assim repetidamente, até morrer. Nas horas vagas, Rourke vai a um clube barato, onde reune-se com outros antigos lutadores para um campeonato de luta-livre. Ele dá voadoras, cadeiradas e chaves de perna e braço. E brilha, sente-se no paraíso. Sua entrada é sempre ao som de Paradise City, "were de grass is green and the girls are pretty. Take me home". Tudo bem, tudo certo e no lugar. Ele odeia o Kurt Cobain, que deixou o rock pessimista, cortou a festa. Acabou dando um tiro de shotgun na cabeça. A vida pode ser aquela, mesmo. Todo mundo, incluindo Bill Gates e Eike Batista, vai ao banheiro e quer ter boa performance sexual. Mas cerveja e salaminho não pode ser o bastante, para o caixa. Ser o Abílio Diniz é que é o legal. Será que é? Ele sente prazer, ou melhor, ele goza melhor que eu? Porque eu trabalho duro e mereço gozar bem. Não, ninguém é mais criança, e não pode brincar de médico e de montinho. Elas é que sabem o que é prazer, e sacam que o adulto faz o que quer, mas não é livre. Então, o que resta de bom no trabalho é que ele é bom para o moral? "Mas tu, lembrando sempre do nosso conselho, trabalha, ó Perses, divina progênie, para que a fome te deteste e te queira a bem coroada e veneranda Deméter, enchendo-te de alimentos o celeiro; pois a fome é sempre do ocioso companheira; deuses e homens se irritam com quem ocioso vive; (...) o trabalho, desonra nenhuma, o ócio desonra é!" (Hesiodo, Os trabalhos e os dias. versos de 300 a 311). Só que a honra que temos não é a de sermos abençoados por deuses, e de podermos comer, mas a de termos o salvo conduto do trabalho para afirmar que nossas energias não ameaçarão ninguém, pois o mesmo trabalho as consumiu. Marx viu a máquina como a liberadora do homem para atividades culturais, que o engradecessem, humanizassem. Mas à máquina o homem era atado, e seu tempo de trabalho permaneceu, aumentou. O produto deixou de ser dele, tornando-se o ser vivo, no mercado (fetichização), enquanto o trabalhador tornou-se o morto, sem poder de escolha (reificação). O trabalho não mais nos define, não é o que desejamos ser (Ghiraldelli). Queremos direitos. Queremos coisas para por no corpo, para fazer sua aparencia e seu estilo. No clip Revolution is my name, do Pantera (http://m.youtube.com/?#/watch?v=_XI1DD_vJuY), o garoto não queria ser o pai. Mirava no rockstar. Ele ganha grana e pega geral. Mais que isso: ele é sobrenatural. O garoto faria a revolução, revolucionando a si. No filme Runnaways (Sigismondi, 2010), as perspectivas para as meninas era serem garçonetes, engravidarem, terem varizes e envelhecerem. Cherie Currie ia ao club, para se estilizar de Bowie e de sonhos narcóticos. Transcendia. Joan Jett era contrária a tudo o que lhe diziam. Em resposta, ela distorcia sua guitarra. Seu interesse era o som e o corpo de Cherie. No clip de We're not gonna take it, do Twisted Sister (http://m.youtube.com/?#/watch?v=V9AbeALNVkk), o pai admoesta o garoto: "você se veste errado, você vai mal na escola, o que você quer fazer da sua vida?" O garoto ouvira tudo calado, até a pergunta final. "I wanna rock!". Mas era preciso uma Cherie Currie na vida desse garoto, para deixar seu som mais libidinoso: "Hey street boy, what's your style? Your dead end dreams don't make you smile. I'll give you something to live for: have ya, grab ya 'till you're sore. Hello daddy, hello mom, i'm your ch ch ch cherry bomb. Hello world, i'm your wild girl...". Você viverá por mim te agarrando até te deixar dolorido. O garoto sai de casa, e vai usar seu tesão em uma porção de coisas. A mulher é Lilith e Eva, ao mesmo tempo. Deixa explodindo a libido do homem, mas também retira-o do paraíso, exibindo as contas pra pagar. A salvação do homem, para ele não só trabalhar, sem se divertir, são os momentos de luta, rock e sexo, de jovens. Energia de gente efêmera, rebelde e imaginativa, fazem-nos brilhar por alguns instantes.

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