sexta-feira, 13 de junho de 2014

Manifestantes

Manifestantes, policiais, repórteres, cinegrafistas, passantes e consumidores de notícias: são todos manifestantes em uma manifestação. Querem que a manifestação aconteça, para poderem desempenhar seu papel. O manifestante quer se manifestar, com seus gritos e irupções às vezes espontâneas, às vezes calculadas; o policial quer policiar, manifestando-se, desta forma; o repórter quer reportar, também manifestando-se; o cinegrafista quer filmar... Peraí, houve uma interrupção: a explosão de uma bomba matou Santiago, retirando-o da manifestação. A manifestação parou, não pode seguir sem um cinegrafista. Protesto é agressivo, são todos, cada um no seu papel, segurando o coração dentro do peito, e querendo que ocorra bem o espetáculo do grito, da quebra, da contenção, até da chegada dura demais da polícia (que dá em redirecionamento do grito, e nova energia para protestar, continuando o acontecimento), e a observação e transformação disso tudo em notícia. Uma certa solidariedade une estes atores. Na falta de um, os demais não têm o que fazer ali. Frágil equilíbrio que uma bala de verdade, um explosivo, um carro desgovernado podem quebrar. Santiago morreu, deixando todos fora de ação. A manifestação deve voltar logo. Mas terá que cuidar da presença forte e dinâmica de cada um na Manifestação, que é a vida.

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