segunda-feira, 2 de junho de 2014

O momento e o fazer

O barbeiro era silencioso. Fazia a lâmina raspar minha nuca, testando o couro. Na propaganda da Visa, o barbeiro teve um instante de arrependimento ao perceber que o pescoço de Paolo Rossi, carrasco da seleção brasileira, passou limpo pela sua mão. Uma vez me disseram que não basta fazer um bom trabalho: tem que parecer que faz. Aquiles só falava do que tinha a ver com a situação diante dele: porque saiu da guerra, por que razões e emoções agora voltava, e quais motivos espirituais e de habilidade o fariam inflingir um mortal ferimento em Heitor. Uma psicóloga terminava seu atendimento e vinha me dizer o quão boa era sua técnica, pelo motivo x e y. Minha teoria estava no modo com que meu corpo estava com a criança. Minhas falas, para esta, eram de instrução ou de animação, numa brincadeira. Quando eu teorizava, era para dar e receber subsídios para quando chegasse o momento da ação. Meu cabelo era dureza, o barbeiro falou, prosseguindo. O do Rossi apenas agradeceu, quando o cartão correu a máquina. Os cabelos estavam perfeitos, e não tinha mais o que falar. Nem pescoços a cortar. Cabelos, barbas, o corpo que se opõe e o que aprende, são tudo o que há para receber nossa ação. Só tesoura, lâmina, gestos, sorrisos e conselhos, são necessários. E os objetivos são corte bem-feito, criança participativa e guerra vencida. Ponto final.

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