quarta-feira, 18 de junho de 2014

Amor e ódio no BBB

Escrito em 16 de janeiro, quando o BBB 14 foi transmitido: Primeiro encontro com amigos da namorada. Mais do que gostar deles, meu dever era ser gostado. Propositalmente ou não (os psis invertem isso, dizendo "inconscientemente ou não", colocando o caráter não intencional da ação na frente), em situações assim, acabo quebrando as expectativas. Digo algo que incomoda e falho no dever de ser gostado. Mas isso é no primeiro encontro. Primeiras impressões não se corrigem, mas aceitam, posteriormente, que se acrescente impressões diferentes. Na votação do Big Brother, ontem, um dos participantes deu como motivo para votar em outro uma frase dita por ele, que o deixou com mal-estar. A frase não foi repetida, mas foi o suficiente para que o votante formasse sua primeira impressão e, não tendo tempo para trazer novos elementos, entendendo de outras formas o dito, utilizou-o como motivo para a votação. Geralmente, quando conhecemos uma pessoa, não abrimos tão rápido o que pensamos sobre ela. Há, contudo, casos de pessoas que verbalizam suas impressões, e até valorizam essa atitude e tomam-na como característica da própria personalidade. Tem participantes do BBB, inclusive, que entram na casa afirmando dizerem "na lata" o que pensam. O público fica com a impressão de que logo ele discutirá com alguém e dará em momentos interessantes, interrompendo o marasmo de estar naquela casa (e de assisti-la). E é marasmo porque é muito parecido com a vida que ocorre fora dela. Um morador da casa do BBB age como normalmente agimos, quando se incomoda com alguma coisa: deixa a situação dar uma esfriada, mas ele próprio não esfriou ainda. É movido por um impulso timótico, que tem a ver com os desdobramentos da ira, como a honradez, senso de justiça ou de necessidade de receber uma reparação, etc (para os gregos antigos, os impulsos erótico e timótico eram forças que agiam sobre os homens, por ação dos deuses, e sob os quais o controle que estes podiam ter era o autocontrole, ou seja, o cuidado com a forma como agiriam após terem sido fustigados. Impulsos, então, não tinham a ver com nossa ideia atual de sentimentos, mas de forças que nos tocavam, impulsos que aconteciam conosco. Contudo, podemos dizer que nossos sentimentos de amor e ódio têm essas raízes). Esse morador puxa para o lado uma pessoa de confiança e fala do seu incômodo. Os outros não vêem. A confissão não interfere diretamente na convivência entre eles. O mal estar passou, e o impulso tende a esfriar. Contudo, quem está fora da casa viu o caso inteiro. Bial aproveita para abrir um paredão surpresa, obrigando os moradores a jogarem, e nesse momento o jogo é de sacar as impressões que já se formaram uns dos outros para justificar uma campanha, individual ou não, para a eliminação de alguém. Essa pessoa será seu alvo para sair da casa, talvez para a formação de outros paredões e em outras decisões relativas ao jogo. Quando os moradores tornam-se jogadores é que vemos melhor seus impulsos. Mesmo que eles já tenham se auto-controlado, e o caso que os despertou tenha passado, eles podem ser atiçados pela própria condição de ser um participante-competidor de um reality show. Nós estamos aqui, de fora, para ver como eles lidam com o amor e a ira. A pessoa que ama, gostamos de ver se entregando, vivendo a desmedida do amor. E, como um amor desmedido não pode ser correspondido à altura, o alvo daquele amor fica nos parecendo indigno dele. Pronto, aquele que ama já cai no nosso gosto. A pessoa que odeia, se tem motivos para odiar, precisa cuidar para não perder o senso de justiça. O mal que ele ou alguém próximo a ele sofreu (ou que ele mesmo causou) precisa ter uma compensação. Mas essa compensação precisa ser justa, manter nossa impressão de que trata-se de um guerreiro que sabe o que faz com os outros e consigo, não se descontrolando. Se, além disso, esse guerreiro é amado por alguém na casa, ou ama alguém de forma que nos comova, então o amamos também. Vivemos junto com ele os seus sentimentos e ações, e, após torcermos por ele no jogo, faremos o que pudermos para entregar-lhe a vitória. Bial chama os participantes do BBB de nossos guerreiros, e os amantes e amados de príncipes e princesas. E são mesmo, como nas novelas. Vivemos, juntos deles, esses sentimentos nossos.

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